“Eu gosto de ler e depois contar as histórias para a minha mãe”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

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“Eu gosto de ler e depois contar as histórias para a minha mãe”

Vera Fipke, 65, visita a 50ª Feira do Livro de Pelotas acompanhada da filha Thais, 29, diagnosticada com esquizofrenia

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“Eu gosto de ler e depois contar as histórias para a minha mãe”
Mãe e filha, Vera e Thais compartilham o gosto pela leitura (Foto: Jô Folha)

No início da tarde da última sexta-feira (1º), Vera Fipke, 65 anos, visitava a 50ª Feira do Livro de Pelotas acompanhada da filha Thais Fipke, 29 anos. Thaís foi diagnosticada com esquizofrenia durante a juventude e, desde então, precisa do auxílio da mãe, sobretudo em lugares públicos com grande movimentação de pessoas.

Nestes cenários, a jovem pode não se sentir tão confortável, em vista da sua condição. Desse modo, o apoio da mãe tem caráter essencial, permitindo que Thais consiga frequentar o ambiente da feira. O hábito da leitura pode ser um dos recursos mais efetivos para melhorar os sintomas de pessoas com esquizofrenia.

Como é a relação da família com a Feira do Livro? (Vera)

Nós viemos à feira todos os anos. Quando não conseguimos vir ou não tem feira, vamos a uma livraria. Nunca deixamos de ler livros. Ela gosta de vir e tem os seus livros preferidos. Agora mesmo, estávamos procurando uma obra que ela busca a continuação para ler.

Para ela, é melhor os livros mais leves e fáceis de entender, para conseguir ler e não perder o costume.

Como foi o processo de descoberta da doença da Thais? (Vera)

Vivíamos em Porto Alegre. Meu marido faleceu e viemos para cá, já que meu outro filho fazia faculdade aqui. Moramos aqui em Pelotas há uns oito ou dez anos. Ela era normal, até que quando ela era mais jovem começou a apresentar crises.

Ela não sabia onde estava, não reconhecia as pessoas, começou a ficar um pouco mais agressiva em determinados momentos. Ela já estava na faculdade na época, fazia Química, e começou a ter crises esquizofrênicas. Depois disso, foram etapas de adaptação à doença dela.

Qual o sentimento de visitar a feira com a sua mãe? (Thais)

Eu gosto. Nós visitamos a feira em dias da semana, porque é mais calmo e tem menos pessoas. Quando tem muito movimento, eu fico mais agitada. Tem que ser em dias mais tranquilos. Eu gosto de livros de aventura, de preferência que tenham imagens, elas facilitam para que eu possa entender a história.

Pode ter textos também, eu leio desde que tenha uma gravura que me mostre aquela informação. Só com a escrita eu não consigo identificar tão facilmente.

Como você enxerga a leitura em sua vida? (Thais)

Os livros me dão alegria e me animam, me agradam mesmo. Eu gosto de ler e depois contar as histórias para a minha mãe. Eu gosto de procurar livros de autores diferentes, mas sempre dentro do padrão das gravuras que mencionei.

Eu sempre tive o hábito da leitura, incentivada pela minha mãe. Eu li mais de cem já. Nem todos eu comprei. Alguns eu li na biblioteca, onde eu também tenho hábito de ir. Para mim, a Feira do Livro é uma motivação para me divertir e achar livros que eu ainda não consegui. A feira me representa.

Você notou que os sintomas da doença foram diminuindo com a leitura? (Vera)

Com certeza. Eu sempre fortaleci a leitura dentro de casa. E essa é uma doença que se tu deixar e não interagir, a pessoa cria um mundo próprio e começa a morar nesse mundo. Eu não quero que ela construa um mundo distante da realidade.

Eu tento manter ela inserida nas coisas que estão acontecendo. Nós sempre saímos juntas, e vamos a restaurantes, cafeterias e livrarias. Ela consegue ter uma vida normal dentro das limitações.

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