Alunos e professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) participam de um trabalho em conjunto com o Iphan para a conservação e educação patrimonial nas Missões gaúchas.
A ideia foi apresentada à UFPel em dezembro do ano passado, e a Faculdade de Urbanismo (Faurb), através do Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira (NEAB), apresentou o projeto que está sendo executado nos municípios de São Miguel das Missões, São Nicolau, Entre Ijuís e São Luís Gonzaga.
Em outubro, 42 pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação e professores da UFPel e do IFSul (campus Jaguarão) participaram de oficina nas Missões, que formaram artífices habilitados a trabalharem em processos de conservação e restauração do acervo histórico local.
De acordo com Vladimir Fernando Stello, arquiteto do Iphan com atuação de 23 anos no local, a formação dos artífices é importante para consolidar o trabalho de conservação das Missões Jesuíticas.
Memória
Este modelo surgiu na década de 1980, quando técnicos locais aprenderam com arquitetos que trabalharam nas obras permanentes nas Missões. Fortaleceram-se, a partir desse período, ações de educação patrimonial, o que gerou engajamento e consolidou o sentimento de pertencimento da comunidade local com o acervo histórico.
A partir dos anos 2000, no entanto, houve descontinuidade e, atualmente, os artífices estão se aposentando, o que gerou a necessidade de um novo projeto executado pelo Iphan em parceria com a UFPel.
Após a oficina de outubro, uma segunda deve formar 20 artífices e oito técnicos junto às prefeituras dos quatro municípios em que o parque arqueológico está localizado. Posteriormente, se trabalhará na educação patrimonial com as comunidades locais e turistas.
“Tem que ser um trabalho continuado, este de educação patrimonial, não adianta fazer em um ano e largar. Tem que ser continuado, reavaliado, atualizado com novas tecnologias e formas de trabalhar com as crianças que frequentam as Missões. A gente, na década de 90 fez muita coisa que surtiu efeito, mas se perdeu essa continuidade”, diz Stello.
A UFPel contratou para trabalhar junto ao projeto a arquiteta e professora da Unisul, Maria Matilde Villegas Jaramillo, que atuou por 17 anos nas Missões. Segundo ela, o projeto é importante para manter o conhecimento que se tem sobre a conservação das ruínas.
Ela explica que elas necessitam de manutenção permanente, devido às intempéries climáticas, de turistas e crescimento de vegetação. Além disso, surgem problemas estruturais que necessitam de uma intervenção maior.
Benefícios
Os artífices formados no projeto, portanto, serão indicações do Iphan às empresas terceirizadas que são contratadas para fazer a manutenção do patrimônio missioneiro.
De acordo com Aline Montagna da Silveira, professora da UFPel que atua no projeto, o NEAB já atuou em 14 municípios, mas pela primeira vez trabalha em uma execução tão distante da Zona Sul.
Além de usar o conhecimento adquirido pelo Iphan sobre as Missões, a UFPel registrou imagens de drones para “gerar modelos mais precisos das ruínas” e auxiliar nos trabalhos. Os alunos e professores especializaram-se por vídeos antes de irem até as Missões para as oficinas de formação.
Para Aline, participar deste projeto nas Missões trará conhecimentos à universidade, e exemplifica a atuação UFPel além do mundo acadêmico. “Esse é o papel da universidade, conhecer os saberes locais das comunidades, favorecendo as ações de extensão”, opina.