Prefeita eleita em Rio Grande, Darlene Pereira (PT) começa a trabalhar hoje na transição com a gestão atual de Fábio Branco (MDB). Darlene assumiu a candidatura petista em setembro, após desistência de Halley Souza, que vai assumir mandato na Assembleia Legislativa. Em entrevista ao A Hora do Sul, a prefeita eleita, que foi chefe de gabinete na gestão municipal do atual deputado federal, Alexandre Lindenmeyer (PT), falou sobre os desafios na educação, economia e gestão da cidade.
Como foi assumir a candidatura no meio do caminho e qual a avaliação de ter conseguido quase 50% dos votos válidos?
Foi um resultado excelente, quero agradecer a confiança da comunidade. Eu já estava na coordenação da campanha [do Halley], inteirada de todo o processo e da proposta pensada. Foram 35 dias e neste tempo fui para a rua conversar com a comunidade. Quis estar perto das pessoas, entendendo as dores delas e isso contribuiu muito.
Lindenmeyer participou ativamente da tua campanha e agora Rio Grande tem o Halley na Assembleia. Como tu vês a parceria com os dois deputados na captação de recursos?
A gente precisa aproveitar esta força. Saí da universidade [como servidora da Furg] para trabalhar na gestão do Alexandre em 2013. Contar com o apoio dele como deputado federal é muito importante. Estive em Brasília [após eleita] e fizemos 14 agendas em diferentes ministérios. O Halley também pode nos ajudar em pautas importantes para trabalharmos juntos, temos esse projeto afim de cidade e país, de ter as pessoas mais valorizadas, cuidadas e respeitadas.
Houve uma grande mobilização de lideranças petistas da região pela eleição do Marroni. Como a integração de prefeituras petistas pode ajudar na integração regional e de captação de recursos?
Esse projeto em comum de cidade e país tem que ajudar a unir as duas maiores cidades da região. Quando uma cresce, a outra cresce também. Tenho certeza de que trabalharemos juntos pelo desenvolvimento da nossa região. Nós em Rio Grande temos a questão do Porto e do Polo Naval que, quando era pujante, também beneficiava Pelotas. Vamos buscar também a integração com São José do Norte, da ligação a seco entre os dois municípios.
Como tu vais trabalhar na captação de recursos com o governo federal?
Em Brasília [tratei] da questão de conclusão do lote 4 da BR-392, importante para a logística portuária, área de grande desenvolvimento e que ajuda o Polo Naval. Tem a questão do combustível verde na refinaria riograndense, que o Alexandre já está trabalhando. Buscamos uma série de ações de investimentos e precisamos qualificar a nossa infraestrutura e serviços oferecidos para a população, para acolher melhor os investimentos.
Como está a questão da transição energética, de hidrogênio verde e energia eólica?
Somos um espaço importante para as energias limpas, seja eólica, solar ou de hidrogênio verde. A planta da refinaria vai render muito, no mês passado foi assinada a autorização e no mês que vem pode ser que comecem as obras.
A coligação fez oito vereadores. Como trabalhar para ter a maioria? Será tranquilo?
A gente já tem conversado com vereadores eleitos. Temos vereadores assumindo pela primeira vez a cadeira, que têm essa intenção de contribuição, eles já manifestaram isso. É importante o respeito ao legislativo, discutir e apresentar os projetos antes, mostrar a importância deles, respeitando, obviamente, as diferenças ideológicas. Sou uma pessoa do diálogo e espero ter apoio para aprovar projetos importantes.
Como será a transição com o atual governo?
Temos coletiva [hoje] para apresentar o processo todo da comissão de transição, dar essa transparência ao povo do que vamos fazer. Será uma equipe grande, em torno de cem pessoas de diversas áreas e setores da sociedade. O segredo de uma boa transição é ter o bom diagnóstico, para conhecer o que estamos pegando.
Quais serão tuas primeiras medidas como prefeita da cidade?
O processo de transição vai nos ajudar no estabelecimento das prioridades. O relatório vai ser o elemento de um plano emergencial dos primeiros cem dias. Temos propostas estruturadas na educação, com a questão dos professores em sala de aula e do ano letivo, e do cuidado e da zeladoria da cidade e da praia do Cassino para ter medidas já a partir de janeiro.
Rio Grande tem baixos índices de vagas na educação infantil, o que impacta o desenvolvimento escolar. Como resolver este problema?
Prioridade é a educação infantil para a criança estar alfabetizada até o terceiro ano, em condições de avançar com qualidade na vida escolar. Precisamos ampliar as vagas. Algumas escolas estão em fase de conclusão de obras. O que não tiver concluído até 31 de dezembro, vamos correr para concluir e abrir mais vagas. A ideia é ampliar já em 2025 as vagas na educação infantil.
Como a prefeitura pretende trabalhar na segurança pública, que Rio Grande sofreu nos últimos anos?
O gestor municipal cuida da cidade, então a segurança também é responsabilidade. Existe o gabinete de gestão integrada, a gente quer ver como ele funciona hoje e reestruturá-lo, e vamos buscar recursos para o videomonitoramento da cidade.
Nacionalmente, Rio Grande se destacou na desburocratização. Como tu pretendes trabalhar essa questão para fomentar a criação de novas empresas?
Não é o que a gente escuta dos empresários e pessoas que querem empreender em Rio Grande [sobre destaque em desburocratização]. A transição vai nos ajudar a entender a questão da sala do empreendedor e do alvará online, implementados na gestão do Alexandre.
Pelotas e Rio Grande têm ambientes propícios às empresas de inovação, com incubadoras ligadas às universidades e parques tecnológicos. Como a prefeitura pode fomentar este setor?
Esse é um dos temas que já está na transição, o desenvolvimento de novas tecnologias, de aplicativos que aproximem o povo da gestão municipal. Precisamos modernizar. A tecnologia da informação é um elemento de aproximação. A Furg e o IF estão envolvidos no processo de transição para ter o desenvolvimento de novas tecnologias e startups. É uma grande fonte de entrada de recursos para a cidade.
O complexo industrial do Porto é um dos maiores do Estado e se tem a possibilidade de retomada do Polo Naval. Como a prefeitura trabalha esses assuntos com os governos estadual e federal?
Têm pessoas interessadas, foi pauta em Brasília, em investir em Rio Grande. Estamos buscando estimular isso, que as pessoas participem dos editais nacionais para ter a ZPE [Zona de Processamento de Exportação] em Rio Grande, que trabalha dentro de inovação também. Temos todas as possibilidades de retomada do Polo Naval. Rio Grande tem potencial físico, humano e de empresas para receber essa cadeia. Hoje a gente está com a P-32, ainda com problemas a serem resolvidos, em seguida vem a P-33, que ainda é desmantelamento, mas já se trabalha para entrar em leilões que estão por surgir nacionalmente. Mas a gente não pode ficar só nisso, precisa buscar outros empreendimentos e mostrar como Rio Grande tem capacidade.
Em maio, a cidade sofreu muito com a enchente. Quais as adaptações necessárias para Rio Grande e como fazê-las em quatro anos?
Tratamos em Brasília a criação de uma rede de contenção da cidade. Rio Grande é uma península, é frágil neste sentido de risco de alagamentos. A primeira fase é trabalhar no projeto, a universidade fez uma proposta de cercamento, mas precisamos aprofundar no projeto executivo e buscar recursos federais para isso, para depois implantar. É um projeto enorme, diques e cercamento do entorno, respeitando a questão ambiental, com áreas de vazão com bombas. Só tendo o projeto vai se ter o tamanho do valor que a gente vai precisar buscar.
Como tu pretendes trabalhar o Cassino, pensando já neste veraneio?
Precisamos ter uma grande força tarefa, vinculando todas as secretarias e dar esse suporte no veraneio. Em fevereiro tem também a festa de Iemanjá, um evento religioso e cultural. Precisamos ter estrutura de recepção.
Como pensar turismo além do veraneio no Cassino?
Historicamente, fala-se do Cassino quatro estações, mas até hoje não conseguimos criar uma estrutura que garanta eventos no Cassino o ano inteiro. Vai acontecer no futuro a obra dos molhes da barra, é um projeto que já está no financiamento da agência francesa que o atual governo apresentou e a gente vai executar. Rio Grande tem capacidade de receber [turistas], com hotelaria e restaurantes, precisamos de eventos que atraiam pessoas.
E o Centro Histórico da cidade? Como valorizá-lo?
Precisamos revitalizá-lo, é uma demanda dos comerciantes do calçadão de Rio Grande, que está muito ruim. Está tendo afastamento do público do Centro, e fica pior em questões de segurança e autoestima. Precisamos trabalhar em parceria com a iniciativa privada, ver o que é possível construir juntos, e buscar recursos para revitalização de prédios históricos. A gente tem orgulho de ser a cidade mais antiga, ter prédios mais antigos, mas a gente tem que cuidar, restaurar e revitalizar. Não é tão simples e não é com o dinheiro do caixa, mas temos como buscar investimentos que possam nos ajudar.
Daqui a quatro anos, como tu pretendes entregar o município à população?
Quero que as pessoas sejam mais felizes e tenham orgulho de viver na nossa cidade. Hoje a gente vê muita gente saindo de Rio Grande, a gente perde um grande potencial porque as pessoas vão buscar oportunidades que não enxergam na cidade. Quero fazer de Rio Grande um lugar com muitas oportunidades para que as pessoas possam permanecer e viver bem.