Independentemente de quem fosse eleito para a prefeitura em Pelotas, lidar com o Legislativo seria o maior dos desafios na chegada ao Executivo. Se a atual gestão, com ampla maioria, já ficou claramente na mão dos vereadores em diversos momentos, imagina como seria um prefeito sem uma larga bancada… Fernando Marroni, do PT, venceu e, mesmo prometendo diálogo, terá no azeitamento desta relação a primeira grande missão.
A audiência do A Hora do Sul que acompanhou no domingo as mais de oito horas de transmissão ao vivo pelos nossos canais digitais deve ter se surpreendido com a quantidade de vezes que o Legislativo veio à pauta em um dia de decisão para o Executivo. E alguns pontos levantados causam desconforto. O primeiro deles é relembrar que, em uma cidade com orçamento apertado e previsão de déficit para 2025, os vereadores terão mais de R$ 50 milhões a serem distribuídos por emendas impositivas.
É algo desproporcional para um poder que deveria, constitucionalmente, preparar leis e fiscalizar a prefeitura. É compra de votos institucionalizada. Não é possível que vereadores possam gastar dinheiro público, mesmo que sejam para serviços à comunidade, conforme der na telha, sem uma análise técnica e de prioridades. Enquanto isso, outras áreas sensíveis do município padecem com o aperto financeiro e ficam para trás.
Outro ponto destacado por vários dos convidados é o distanciamento que a atual legislatura mantém de entidades e de temas caros para a cidade. Não costumam ser vistos em reuniões da Aliança Pelotas ou da Associação Comercial, por exemplo. Não devem ir como figuras partidárias, mas como lideranças locais ouvindo os anseios de outras lideranças, que esperam deles propostas e soluções, bem como alinhamento para levar a cidade adiante. A Lei da Inovação, por exemplo, criada por entidades junto ao atual governo, cria teias em alguma gaveta da Câmara. É algo unânime entre as entidades e, ainda assim, os vereadores parecem pouco se importar em colocá-la em prática. O que falta?
Muito se fala nas expectativas para o governo Marroni, mas a nova composição da Câmara precisa, e muito, ser diferente da anterior. A mudança foi na casa de 30% das cadeiras, mas mesmo os que ficaram podem ter uma nova atitude em prol de um crescimento de Pelotas. Sair um pouco de seus feudos e trabalhar pela cidade em geral.