Dando continuidade à série de matérias sobre as áreas públicas de Pelotas, a reportagem do A Hora do Sul visitou o Parque Dom Antônio Zattera na tarde de ontem. O objetivo foi verificar o cenário de preservação e manutenção de todos os aspectos que compõem o espaço. Ao todo, o parque tem parquinho infantil, academia ao ar livre e pista de skate, além das áreas de lazer que são tradicionais pontos de encontro dos pelotenses.
Ao menos o menino Mathias Lopes, seis anos, aprova o espaço. Sempre que surge a oportunidade, o pai Lucas Lopes, 26, leva o pequeno até o parquinho playground. Mathias é diagnosticado com transtorno de espectro austista (TEA) e o contato com a natureza tende a favorecer seu desenvolvimento. “Ele vai em uma clínica próxima daqui. Como fica perto, trouxe ele para dar uma brincada. Ele gosta muito”, conta.
Transformações recentes
Lucas frequentava muito o parque quando era mais novo, antes da construção da nova Pista Pública de Pelotas (PPP) e da execução de outros processos de qualificação feitos no local durante os últimos anos.
“Antigamente era mais sujo. A pista não havia sido inaugurada”, recorda. “Agora a quadra também está mais bonita, com iluminação. Só a pracinha que deixou um pouco a desejar com alguns brinquedos quebrados”, completa.
A prática de esportes
As sombras proporcionadas pelas árvores e as áreas verdes do parque também permitem a prática de exercícios físicos diversos. O professor da UFPel, Felipe Herrmann, 40 anos, aproveitou o feriado do dia do servidor para acompanhar os treinos de coordenação motora da filha nadadora. Junto a um profissional da educação física, ela trabalhava em um circuito conjunto com escada de agilidade e bola de vôlei.
Herrmann destaca a liberdade para utilizar o espaço externo com segurança. “Aproveitamos o tempo bom para fazer esse exercício. E está bem limpo o parque. Aqui tem muitos ambientes para a prática de esportes, o que acaba envolvendo mais a comunidade, tem mais gente presente e impede o crescimento do vandalismo. É um espaço ativo”, define o professor.
Pista Pública de Pelotas
Um dos lugares com mais destaque no parque é a pista de skate, inaugurada em 2022. O porto-alegrense Matheus Martins, 25 anos, visitou o parque e a pista pela primeira vez no último fim de semana, por conta de um evento envolvendo o esporte radical. Ele declara que a pista faz com que o skatista se sinta acolhido e fuja do preconceito. “O skate nasceu da rua e deve ser praticado na rua, mas é necessário ter o nosso refúgio”, afirma.
Ainda, Martins aposta que a presença da pista no parque fortalece o sentimento de zelo pelo espaço. “É como se fosse uma casa para nós que andamos direto na rua, como eu e meus amigos. Muitas vezes, vamos a locais abandonados e limpamos. Se quebramos algo, consertamos. A ideia nunca vai ser destruir e sim ressignificar”, explica.
Questões multifatoriais
O professor de história da arte do curso de Conservação e Restauração da UFPel, Rodrigo Haiden, concorda que o parque pode estar em condições melhores devido ao uso frequente e constante por mais pessoas. No entanto, ele não vê essa como a única explicação. “A degradação dos espaços públicos e a má conservação do patrimônio cultural são questões multifatoriais”, ressalta. “Envolvem desde a falta de políticas públicas até a ausência de investimento e de cuidado por parte da população”.
Para o especialista, quando o patrimônio cultural é vivido e devidamente apropriado pelo público, sua conservação tende a ser melhor, mas é preciso lembrar que a responsabilidade não pode recair sobre a população apenas. “É fundamental que o poder público e as instituições responsáveis pelo patrimônio também atuem e assumam seu papel nessa preservação”, conclui Haiden.