O livro de estreia da psicanalista pelotense Camila Parobé Anllelini, De amor e outros ódios (editora Patuá) está entre os indicados ao Prêmio Jabuti, na categoria Crônica. A obra lançada no ano passado é formada por um compilado de crônicas e cartas poéticas, que abordam as alegrias e dissabores da relação entre mãe e filha.
Camila Anllelini, 35, radicada no Rio de Janeiro há 19 anos, inspira-se em recordações da convivência com a mãe, desde os primeiros anos de vida. Mas a autora não chega a caracterizar a obra como autobiográfica, segundo Camila os textos são construídos a partir de vivências, mas recheados pela própria imaginação da autora.
A obra da pelotense concorre ao mais importante prêmio da literatura brasileira com mais outros nove autores, nomes como Mário Prata, com Pelo buraco da fechadura eu vi um baile de debutantes, com Nélida Piñon, com Os rostos que tenho. O prêmio da Câmara Brasileira do Livro está na 66ª edição. “Para mim, eu tenho brincado que essa é a indicação do Oscar da literatura brasileira, ganhar é só um detalhe. A própria indicação é o máximo do reconhecimento”, diz sobre a feliz notícia.
A autora conta que desde criança gostava de escrever, uma aptidão que foi retomada há alguns anos. Para se soltar fez alguns cursos de escrita criativa e começou a publicar em blogs de coletivos. Em 2020, durante a pandemia, começaram a surgir os textos do livro, alguns em forma de crônicas e outros em cartas para a mãe.
Pontos sensíveis
O tema não é novidade na pesquisa de Camila, nem como psicanalista, nem como paciente da psicanálise. Talvez por esse motivo a escritora não se furta em tocar pontos sensíveis da relação com a própria mãe e que podem ser comuns a outras tantas famílias. “Será que tem alguma relação mãe e filha que não seja complicada?”, questiona a autora.
Mesmo sem ser autobiográfico, o livro de Camila é muito pessoal, começando pela capa, uma fotografia que mostra a escritora (ainda bebê) e mãe dela em um momento de integração. Há ainda outras imagens das duas ao longo da obra.
Camila comenta que a mãe dela leu e adorou o livro. “Ela tem o maior orgulho, mas é uma ambivalência. Ela se vê por um olhar, que apesar de poético, não é idílico”, relata. Em De amor e outros ódios a escritora não faz uma escrita “floreada” sobre a convivência mãe e filha. “Qual a dimensão que ocupa uma mãe?”, pergunta a psicanalista na obra.
Entre crônicas, poemas e cartas, a autora expressa passagens duras e contundentes. Sobre essas passagens, Camila diz que elas conversaram o que puderam conversar e ela respeita os limites. E a aconselhou: “Onde encontrar mais dificuldade guarda no lugar da ficção, porque também tem ficção”.
A psicanalista, que também é mãe de uma adolescente, relembra que por muito tempo tentou se diferenciar da mãe que se apresentou a ela, o que hoje não é mais bem assim. “O livro é também um processo de análise de apaziguamento dessas diferenças”, fala.
Próxima etapa
No dia 5 de novembro, às 12h, serão revelados os cinco finalistas de cada categoria, enquanto os vencedores de todas as 22 categorias – que abrangem os eixos de Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação – e o Livro do Ano serão conhecidos na cerimônia de premiação, marcada para o dia 19 de novembro deste ano, no Auditório Ibirapuera, em um evento exclusivo para convidados.
Sobre a autora
Camila Anllelini é psicanalista, associada ao Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, mestre em Mediação de Conflitos pela faculdade de psicologia da Universidad Europea del Atlántico (Espanha), pós-graduanda em Psicanálise, Arte e Literatura pelo Instituto ESPE.