O número de mulheres responsáveis pelas unidades domésticas no país cresce e quase se equipara ao de homens, conforme aponta o Censo de 2022. A pesquisa divulgada na sexta-feira revela que, entre os gestores dos lares, 50,9% são homens (37 milhões) e 49,1%, mulheres (36 milhões). Em relação a 2010, o sexo feminino apresentou um aumento de mais de dez pontos percentuais quando o assunto é o comando das casas brasileiras. Entende-se por unidade doméstica o conjunto de pessoas que vivem em uma mesma casa.
Em Pelotas, a professora da rede estadual, Sedeni Vieira de Moraes, 61 anos, é um exemplo disso. Hoje ela mora sozinha, mas já foi casada duas vezes. Por ser a filha caçula da família, foi criada ao redor dos irmãos. Quando casou, se viu em uma situação diferente e, por conta da filha que já estava a caminho, buscou mei-os de ter trabalho e renda. “Sorte minha”, diz Sedeni. “Quis o destino que os dois casamentos não tivessem continuidade, e daí em diante ainda teria uma filha para criar”.
Desafios
A professora conta que assumir a responsabilidade da casa mudou em alguns momentos a maneira que ela levava a vida pessoal e profissional, principalmente nos momentos de superioridade econômica. “Por um lado, a certeza de poder viver sem depender de ninguém. Por outro, abrir mão de alguns desejos próprios pela família”, explica. “No lado profissional, pensei em crescer, entendi o mundo do capital e tive alternativas de saída, caso não me adaptasse no que estava fazendo”, acrescenta.
Dinâmica populacional
Para o economista Eduardo Tillmann, alguns fatores contribuíram para o aumento de mulheres como responsáveis por domicílios, entre eles a dinâmica populacional. “Cada vez mais o divórcio é uma coisa comum e isso já faz com que a mulher acabe se tornando chefe de domicílio, saindo da posição de cônjuge”, explica.
Em termos econômicos, o especialista cita dois fatores que têm ocorrido no mercado de trabalho e impactam nos dados: o crescimento da participação feminina e os salários. Embora as estatísticas ainda mostrem que as mulheres ganham menos do que os homens na média, Tillmann diz que essa diferença vem caindo com o tempo. “Se as mulheres estão se tornando chefes dos domicílios, isso está muito conectado com a questão salarial”, afirma.
Preconceito
Atualmente, a casa de Sedeni está mais vazia ainda, posto que a filha já se casou e se sustenta de maneira independente. Mesmo assim, a professora carrega con-sigo um ideal a partir daquilo que viveu. “São muitos preconceitos que uma mu-lher carrega em sua vida”, assume. “Há um misto de admiração e pouca valia, em uma sociedade machista que vivemos”.