Mais uma vez, a safra de pêssego vai ser aquém na região. Novamente o impacto climático interfere em uma cultura tão delicada, que em um detalhe pode fazer o trabalho de um ano inteiro se perder. A região é ainda a maior produtora do Brasil de pêssego para a indústria, mas o momento da cadeia, já há algum tempo, não é favorável. No entanto, não dá para apenas aceitar este encolhimento de braços cruzados. Alternativas são possíveis de serem pensadas para dar fôlego a uma das principais vertentes do nosso agro.
Atualmente, menos de mil famílias em toda a Zona Sul ainda vivem do pêssego. É um encolhimento enorme, se levarmos em consideração o passado recente. A delicadeza da fruta ao clima, em tempos de extremos, é um dos motivos para tamanho recuo. Chuva, frio ou calor fora de época, granizo, vento, uma noite de temporal, e tudo vai fora. Por isso, é uma aposta duríssima ainda contar com o cultivo do pêssego como meio de subsistência. É bastante comum, ao circular pelas nossas colônias, ouvir relatos de quem migrou para outras frentes, ou mesmo arrendou suas terras, por desistir.
Passa por isso também a péssima infraestrutura das nossas estradas rurais. A cerca de um mês do início da safra, os estragos de maio ainda não foram plenamente corrigidos e, em trechos recuperados, já há novo trabalho necessário, tamanha a instabilidade climática. Mais um desafio. E, fora todos esses contratempos, a questão do preço ainda é um motivo de discordância entre produtores e indústria.
O fato é que, para o Brasil comer pêssego enlatado, Pelotas e região são fundamentais. Caso contrário, resta a importação, com custos muito maiores e qualidade menor. Pela lei da oferta e da procura, o nosso preço praticado é até muito baixo e melhorar isso passa pela valorização do nosso produto e da nossa marca. Quantos por aí sabem que quase todo o pêssego do Brasil sai daqui? Uma das saídas é adicionar valor agregado. Tanto quanto o doce de Pelotas, o pêssego da Zona Sul do Estado é um produto regional e valioso, que deveria ser mais reconhecido, começando por nós mesmos.
A indústria e o produtor precisam de planos e incentivos, vindos das entidades e do poder público, para reforçarmos uma marca tão preciosa e rara que temos, mas que vem caindo no esquecimento da nossa própria comunidade.