Centenas de membros de religiões de matriz africana protestaram no final da tarde desta quinta-feira (24) no Mercado Público contra Marciano Perondi (PL), candidato à prefeitura de Pelotas. Entidades religiosas o acusam de intolerância religiosa após ele ter pisado sobre um símbolo alusivo ao orixá Bará afixado no centro do Mercado. O candidato diz que se trata de politização e que a religião está sendo usada para atacá-lo.
O babalorixá Juliano de Oxum, idealizador da demarcação, explica que o símbolo representa a resistência das comunidades negras escravizadas na região. “O adesivo demarcatório veio trazendo sua energia, ressignificou a história de Pelotas, ressignificou a história do povo de terreiro e das comunidades tradicionais, fazendo alusão aos negros que vieram para cá escravizados, trazendo sua cultura e ancestralidade”, diz o líder religioso.
“Hoje, infelizmente, nos deparamos com essa falta de respeito. Não estou falando de PL ou de PT, estou falando sobre religião, sobre a ancestralidade pelotense que foi desrespeitada”, diz Juliano.
A demarcação em adesivo foi criada em 2021, ano em que foi instituído em Pelotas o Dia do Orixá Bará. Para as religiões afro, Bará é o orixá dos mercados, com o poder de abrir caminhos. No ano passado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) abriu processo para registrar o símbolo como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.
Defesa de Perondi
Perondi afirma que não tinha conhecimento do significado da demarcação e que não percebeu o símbolo. Ele diz que estava no Mercado para gravações e que não sabe quem retirou a proteção do adesivo.
“Estão politizando e tentando utilizar a religião para me atacar. Eu passei próximo de um símbolo religioso e nem vi, alguém tirou a proteção. Estava conversando e o pessoal está dizendo que eu estava desrespeitando religião. Eu respeito todas as religiões. Nunca pensei em desrespeitar e nem fazer nada”, diz.
Em nota publicada no Instagram, Perondi diz que estava sobre o símbolo para dar atenção a um homem e que “as acusações de desrespeito religioso inflamam os ânimos e propagam o ódio”.
Repercussão
Em uma publicação nas redes sociais, o Conselho Municipal do Povo de Terreiro manifestou indignação, afirmando que o espaço é protegido por lei. “Nós encaramos isso como um ato de intolerância pelo candidato do PL Marciano Perondi. Nossos espaços devem ser preservados e respeitados”, diz a publicação.
O fato também foi criticado pela Comissão de Igualdade Racial da Subseção de Pelotas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que divulgou uma nota de repúdio classificando como “ato de intolerância religiosa”. “O fato, grave, configura violação a direitos das religiões de matriz africana”, diz o texto.