A tragédia com a equipe do Remar para o Futuro colocou toda a comunidade em um estado de choque difícil de descrever em palavras. Foram nove vidas ceifadas de maneira abrupta. Sete jovens cheios de talento e potencial, trazendo no peito medalhas inéditas conquistadas com muito trabalho, orientados por um mestre dedicado.
O projeto, liderado por Oguener Tissot, tornou-se uma referência nacional na formação de atletas em um esporte pouco popular, que não aparece todo dia na TV. Em pouco tempo, o trabalho de Oguener fez com que Pelotas, além da cidade da dupla Bra-Pel, se tornasse também a cidade do remo. O Remar para o Futuro é um motivo de orgulho para Pelotas e é um símbolo do potencial que a cidade tem.
É compreensível a indignação de quem questiona por quê o grupo não teve condições de viajar de avião, sem a necessidade de se aventurar pelas estradas em uma van por quase 2.600 quilômetros, somando ida e volta.
Se, por um lado, o projeto existe graças ao apoio do governo municipal, os R$ 136,6 mil repassados anualmente pela prefeitura não são suficientes se quisermos formar atletas de ponta, com potencial olímpico, como os que estavam na van. Levando em conta os 30 alunos previstos no contrato com o governo, são apenas R$ 378,61 por mês para cada aluno inscrito no projeto, o que inclui uniformes e recursos para três viagens.
Também é estranho que um projeto consolidado como o Remar para o Futuro não contasse com patrocinadores privados suficientes para garantir sua sustentabilidade, dependendo de R$ 30 mil da emenda de um vereador para poder ir a São Paulo. É elogiável a decisão do vereador Jone Soares (PSDB) de destinar essa emenda, mas uma iniciativa desse tamanho não pode depender somente da boa vontade de vereadores e de governo.
Como idealizador, Oguener era o coração do projeto, e certamente não vai ser fácil para quem for sucedê-lo. Esse coração, generoso e obstinado, sobrevive em um legado que precisa ser honrado. Oguener e seus sete atletas, agora eternizados, serão inspiração para valorizarmos o que temos de melhor enquanto sociedade.