“Eu fico na expectativa de entender por que escolheram que eles fossem numa van”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Terça-Feira22 de Outubro de 2024

Luto

“Eu fico na expectativa de entender por que escolheram que eles fossem numa van”

Conforme Italo Guimarães, irmão de Henry, normalmente as viagens para competições eram feitas de avião

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“Eu fico na expectativa de entender por que escolheram que eles fossem numa van”
Henry Fontoura tinha 17 anos e foi uma das vítimas do acidente. (Foto: Divulgação)

Em meio ao luto e ao sofrimento pela perda do irmão, Henry Fontoura, 17 anos, Italo Guimarães questiona as circunstâncias que levaram a viagem de cerca de 1,3 mil quilômetro entre Pelotas e São Paulo ser realizada de van. De acordo com ele, geralmente os deslocamentos para competições da equipe de atletas do Remar para o Futuro eram feitos de avião devido às grandes distâncias.

“Antes do período de enchente, todas as vezes eles foram de avião. Geralmente as competições eram no Rio de Janeiro, o meu irmão ia e era de avião”, relata. Para Italo a decisão pelo transporte em uma van teria sido motivada pela falta de verba suficiente para as despesas aéreas dos nove atletas e do treinador. “Dessa vez tinha essa competição de nível nacional e eles tiveram que ir de van, com certeza porque faltavam recursos”.

Especialista em esporte escolar no IFSul, Guimarães diz não compreender por que as instituições que apoiam o Remar para o Futuro não interfiram para que os jovens viajassem ao menos de ônibus. “Quem conhece sabe como funciona o corpo de um atleta, o meu irmão tinha dois metros de altura, uma pessoa dessa dentro de uma van é como se fosse uma lata de sardinha, é desumano”.

Falta de investimento do esporte

Emocionado, Italo Guimarães declara que a tragédia expõe a falta de infraestrutura e de investimento adequado de toda a sociedade no esporte. (Foto: Jô Folha

Emocionado, Italo Guimarães declara que a tragédia expõe a falta de infraestrutura e de investimento adequado de toda a sociedade no esporte. “A gente enquanto sociedade está errado, não é possível que patrocinadores, instituições públicas e privadas e nós como comunidade permita que esses jovens vão de van de Pelotas até São Paulo. Atletas de nível nacional. Tinham prospectos de nível mundial, como é o caso da Helen [Beloni] e isso acontece”.

O irmão mais velho de Henry Fontoura afirma que o momento também é de busca por respostas para a tragédia. “Eu fico na expectativa de entender por que escolheram que eles fossem numa van diante daquela serra que tem uma estrada extremamente difícil, onde ocorre uma série de acidentes”.

Henry Fontoura

Um guri alegre, inteligente, estudante de edificações e acima de tudo atleta. Assim Henry Fontoura é descrito pela família. De acordo com o irmão, o atleta se encontrou no Remar para o Futuro e se dedicava integralmente ao remo, treinando de segunda a sábado.

“Tava extremamente feliz conquistando as coisas dele através do esporte, estava ganhando bolsa, tendo o dinheirinho dele. A gente vem de uma infância pobre, então estava sendo muito legal ver o crescimento dele”, declara Guimarães.

Contrato previa três viagens

Diante dos questionamentos, a prefeitura de Pelotas esclarece em nota que mantém o convênio do projeto Remar para o Futuro no valor de R$ 136,6 mil anuais, o qual prevê três viagens por ano dentro do contrato. Os valores eram repassados de forma parcelada, mensalmente.

As contratações seriam de responsabilidade da entidade executora do projeto, conforme o plano de trabalho. Essa viagem em específico, porém, teria sido custeada por Emenda Impositiva do vereador Jone Soares (PSDB), no valor de R$ 30 mil. O plano de trabalho encaminhado e aprovado previa o pagamento da van para o transporte, hospedagens em hotel e alimentação de toda a delegação.

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