“A vida do pomerano tem base na resistência”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Segunda-Feira25 de Novembro de 2024

Abre aspas

“A vida do pomerano tem base na resistência”

Jairo Scholl Costa, de 72 anos, nasceu em São Lourenço do Sul, onde vive às margens da Lagoa dos Patos

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“A vida do pomerano tem base na resistência”
O advogado, historiador e escritor foi à Europa pesquisar sobre as raízes pomeranas (Foto: Divulgação)

Como a proximidade com a Lagoa dos Patos moldou seu olhar literário?

A minha relação com a Lagoa dos Patos remonta à infância. Pescando, navegando, mergulhando, enfim, explorando este majestoso corpo aquático que tem as características de um mar interno. Com o passar dos anos descobri que São Lourenço do Sul havia sido ao tempo da imigração alemã um grande porto de veleiros, aliás, em determinado momento da história o maior porto de escunas – conhecidas por iates – do Brasil. Aliado a isto veio a influência familiar, posto que meu bisavô João Baptista Scholl tinha sido o continuador da colonização alemã deste município após a morte do fundador Jacob Rheingantz. De modo que a história da colonização era assunto corriqueiro na nossa casa, pois ela era contada por meu avô Júlio Scholl, que guardava a documentação histórica de meu bisavô. A partir disto foi se instalando em mim uma necessidade de revelar esta história.

Como as experiências fora do país contribuíram para o seu entendimento sobre as raízes culturais dos colonos em São Lourenço do Sul?

Quando comecei a pesquisar a história do povo pomerano, verifiquei que era preciso ir adiante e isto acabou me levando para a Europa. Tive oportunidade de conhecer o Mar Báltico e me integrar com pescadores e homens do mar. Ali confirmei que era um povo de marinheiros e pescadores, e que somente as contingências existenciais os levaram para territórios de serras e aclives como a Serra dos Tapes em São Lourenço do Sul. Analisando in loco na Pomerânia, se evidenciou que a imigração foi fruto da fome e miséria que afligiram este povo na terra de origem, obrigando-os a imigrarem para vários países. Além disto, a Pomerânia era um território cobiçado pelos vizinhos, onde em mil anos se conta uma guerra a cada quatro anos e meio no território pomerano.

Qual o impacto dessas discussões sobre a formação da cultura local e na sua própria história de vida?

Naturalmente, o impacto na formação do povo pomerano vindo para São Lourenço do Sul se manifestou na sua cultura, onde grande parte do tempo viveu com reservas até a evolução, que segue acontecendo nos dias atuais onde a integração se tornou mais palpável. A vida do pomerano, contudo, tem sua base de resistência na unidade familiar, no cultivo de tradições praticamente extintas na Europa e sobretudo na língua pomerana, que se pode dizer que é a verdadeira pátria do povo pomerano na sua diáspora.

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