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Data para lembrar de valorizarNão basta ser professor. Tem que estar em constante reconstrução profissional, emocional e física. Na enchente de maio, que atingiu grande parte do Laranjal, a comunidade escolar Municipal Dom Francisco Campos Barretos precisou contar com todo o quadro de docentes para se reerguer.
Os professores adaptaram as salas de aula, as aulas e a maneira de encarar os desafios da vida. A perda material em residências de boa parte do Valverde foi dupla para quem é da comunidade escolar.
Nesse momento, foram os professores que buscaram conhecimento de vida para apoiar os alunos cujas famílias perderam tudo. Essa força contou com parcerias, mas o principal foi o dom de saber ensinar, seja disciplinas teóricas ou de lições de vida.
A diretora da escola, Maria Claudia Ugoski Bacchieri, 56, que por anos foi professora e agora é gestora, na prática precisou ter noções de administração, de conselheira, comunicadora, engenheira, arquiteta, estrategista e negociante, sem deixar transparecer o emocional diante de uma escola destruída pela água.
A didática de ministrar aulas ajudou, e com recursos do governo, de parceiros, de doadores anônimos e de muitos voluntários que ela se acostumou a chamar de “autores desconhecidos”, igual poema ou letra de música, hoje restam apenas três salas a serem restauradas.
“Não podemos pensar na escola como há dez anos. Passamos pela pandemia. O mundo pede mudanças e a escola não pode ficar para trás”, observa a diretora. Para ela, o professor precisou se adaptar, fazer documentos eletrônicos e se comunicar pelas redes sociais, ou seja, precisou viver essas mudanças para poder contribuir. Essa evolução fez a diferença diante do desastre climático.
Lição de casa
Coletivo foi o abraço que a professora Tatiane de Magalhães Maciel, 48, ganhou dos alunos da educação infantil depois que eles a encheram de elogios. “Legal. Linda. É um amor. Ela é adorável e maravilhosa”, falou em coro a turma sobre a mestre. “Ser professora é tudo. Eles são pequenos e ingênuos. Então é um trabalho de formação, plantando aquela sementinha que eles vão carregar por toda vida”, conclui.
A principal lição de casa foi montar o quebra-cabeças do cronograma da escola com dois andares, tendo um só disponível para o uso, e ainda com a quadra interditada. Os professores de educação física fizeram a diferença no período de cheia da Lagoa dos Patos, pois os projetos escolares que permitem a permanência dos alunos mais tempo na escola não podiam parar.
Então, desde o empréstimo de quadras para treinamentos e a permanência em campeonatos, mantiveram a comunidade escolar unida, mesmo impactando a rotina de cada um. “O resultado foi o terceiro lugar no Jepel [Jogos Escolares de Pelotas]”, lembra Maria Cláudia.
Suporte emocional
O professor Rogério Rangel de Lima, 52, mora longe do bairro e diz que a comemoração nesse dia dos professores é de todos. “Principalmente pela resiliência e pela luta em reconstruir a escola para oferecer aos alunos um local adequado e seguro na retomada das atividades”, considera ele ao lembrar das vezes que precisou deixar a disciplina de lado para dar suporte emocional para colegas e estudantes.
Na outra ponta está o professor mais jovem, mas com os mesmos ideais do colega de disciplina. “Sempre fomos muito unidos. Ninguém soltou a mão de ninguém e os projetos não pararam. Todos trabalhando em equipe”, garante Fabrício Mota Foster, 27. Para ele, ser professor atualmente é se desafiar, se reinventar para não tornar as aulas monótonas. São exemplos de mestres que vão servir de referência para a comunidade escolar.