O desenhista Vicente Martinez, 29 anos, é natural de Santa Vitória do Palmar e teve seu primeiro contato com a arte em 2003. Cursou técnico em edificações no IFSul (2010-2015), com atuação como projetista entre 2016 e 2023. Iniciou também o curso de design no IFSul. Venceu o Art Battle Fenadoce em 2016, além de ter atuado como ilustrador e designer para vários músicos de Pelotas e região. Em 2023, integrou o acervo da galeria Otroporto e participou da exposição Cor Arbitrária. Atualmente, integra o Coletivo Camoatim, focado em narrativas visuais, e desenvolve o projeto Hora do Desenho com crianças e jovens.
Como foi o seu início no mundo das artes e o que te motivou a seguir nessa área?
Comecei a desenhar na infância, como muitas pessoas, e nunca mais parei. Se tornou a brincadeira preferida, meu laboratório onde tudo é possível. Com certeza frequentar a Fundarte em Montenegro, no período da educação primária, ainda que eu não tivesse o repertório e maturidade para acompanhar toda a oferta de arte disponível lá, foi uma bússola do que eu queria para a vida adulta.
Quais projetos você considera mais marcantes na sua trajetória artística?
Os projetos que desenvolvi no período de 2023/2024. A pintura Pesca ao Cair da Noite, exposta na galeria Otroporto, foi minha primeira pintura nas dimensões 0,80m x 1,05m. É um projeto com muitas camadas de decisão para tomar. Nesse período também fiz minha primeira exposição, a convite da galeria Estúdio Cinco, com a série Cor Arbitrária. E o projeto Hora do Desenho, que desenvolvo desde outubro de 2023 com orientação do Jorge Dillenburg. O contato com o desenho das crianças e adolescentes, toda pesquisa, planejamento de aula e dinâmicas, tem me levado a um campo totalmente novo do desenho, tem sido muito enriquecedor.
Como você enxerga a relação entre o desenho e outras formas de expressão artística?
Cada uma delas carrega uma parte da essência da humanidade, sempre uma parte diferente. A gente divide algo em comum, mas ao mesmo tempo cada uma é única no que possibilita como plataforma para a criatividade. Ao longo da história da humanidade a gente já usou o desenho para muitas funções diferentes. O desenho é o canivete suíço das artes.
Quais são as principais influências que moldam a sua abordagem criativa?
Acompanhando as entrevistas do Brad Holland, um ilustrador norte-americano que aprecio bastante, ele coloca que o ilustrador deve focar no argumento principal do texto ilustrado e a peça final é como um comentário pessoal. Não importa se esse comentário se afastar do texto, a gente precisa ser mais que literal, mais que óbvio. Então são duas etapas: primeiro é revisar o texto diversas vezes, pesquisar o contexto até ter confiança de ter encontrado essa ideia central; em um segundo momento, começo a pensar o que tenho para acrescentar em abordagem estética e narrativa.
Que importância você dá ao desenvolvimento da arte entre os jovens?
Similar ao da atividade física, do brincar e jogar. É uma atividade arraigada ao desenvolvimento, que deve ser cultivada com atenção e incentivo. O desenho desperta uma outra relação com o mundo concreto, um olhar curioso e criativo. Para pais, educadores e terapeutas é uma ferramenta muito potente de investigação sobre como esse jovem pensa e reage ao mundo externo. A longo prazo, o desenho é uma atividade multidisciplinar que tem capacidade de proporcionar bem-estar e pode ser uma potente ferramenta de trabalho em diferentes áreas de atuação.