Uma visita inesperada contagiou os pacientes internados no Hospital Escola (HE) da UFPel. Os doutores Bagunça, Bolinha e Autis Nane, da ONG Esquadrão da Alegria, integraram a equipe médica e já saíram distribuindo diagnósticos pelos corredores, quartos, ala pediátrica e até UTI.
Examinaram enfermeiras, técnicos, médicos, pacientes e logo deram o diagnóstico: riso frouxo. “Precisa operar”, diz a doutora Autis. A presença inusitada da equipe de besteirologistas começou no Dia do Sorriso, 4 de outubro. Na antevéspera do Dia das Crianças também teve visita e eles prometem voltar mais três vezes no mês para levar um pouco de leveza a quem passa por momentos delicados com a saúde.
Na UTI adulta do HE, considerada pelos colaboradores a mais humanizada, o trio de especialistas em falar besteira arranca sorrisos, acenos e sinais positivos de quem está recebendo cuidados especiais. Eles também dão consulta aos servidores, puxando assuntos inusitados.
“Todas essas atividades são de carinho e de alegria e mudam o contexto em que estamos inseridos. O mínimo que seja, como fazer um bolinho no dia do aniversário, e as visitas externas mudam muito nosso cenário”, diz a chefe da UTI Adulta, Bárbara Ramos Melo. Quem entra no clima é o fisioterapeuta Rafael de Souza, 44. “É muito legal quando eles vêm porque descontrai o ambiente que está sempre sob muita tensão. Então, a gente relaxa e entra na brincadeira”.
Cândida dos Santos Dauman, 29, em plena recuperação de uma cirurgia, não resistiu às brincadeiras e até ‘chorou de rir’. “É muito bom. Eu não podia rir. Mas quem aguenta?”, disse a paciente que fez questão de tirar fotos com os besteirologistas.
A paciente Flora Wendler, 76, logo quis saber se as doutoras iriam todos os dias. A equipe explicou que elas trabalham 72 horas. “Um dia sim e outro também, mas em outro hospital”. A brincadeira logo arrancou uma gargalhada da idosa. “Eu acho que é válido, principalmente quando a pessoa está bem ruim. Deve ser bom para as crianças”.
A coordenadora do Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) do HE, Adriana Coutinho, conta que “era um sonho que tínhamos, encontrar um grupo que trabalhasse de forma voluntária com essa temática de palhaçaria hospitalar”. Adriana explica a importância da iniciativa. “A atuação de palhaços em hospitais visa integrar um cuidar eficiente e um cuidar mais humano, em consonância com o conceito ampliado de saúde, considerando o ser humano todo em suas multiplicidades, para além do corpo físico”.
A recompensa
A doutora Autis Nane conta que está muito feliz em encontrar o menino autista de sete anos. Ela mostra para ele a gravata com o símbolo do autismo e consegue interagir com o pequeno, que logo a corrige, dizendo que a pintura no rosto é um dinossauro e não um jacaré. “Essa é a nossa identidade. O trabalho traz muitas compensações. Nós ficamos muito felizes, pois a cada sorriso de criança renova nossos corações. É muito amor e alegria”, disseram as doutoras Autis e Bolinha, depois de aprontarem no corredor da pediatria e arrancarem muitos abraços.
A expressão de alegria do pequeno Danilo Dias Almeida, cinco, contagiou a todos. A mãe, Angélica Almeida, 32, conta que a felicidade é dupla, pois ele adora brincadeiras e palhaços e voltaria para casa após fazer cirurgia para retirada das adenoides e amígdalas. Com o doutor Bagunça, foram várias interações, até o momento especial da selfie.
ONG
Os voluntários, mais conhecidos como doutores-besteirologistas, são de diversas áreas e dedicam tempo para transformar a experiência hospitalar, proporcionando sorrisos e acolhimento. Além de entreter, a presença dos palhaços desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida dos pacientes durante o tratamento. Com mais de cem integrantes atuando em diversas cidades do RS, a ONG Esquadrão da Alegria impactou mais de 30 mil pessoas em 2023.
A diretora local da ONG, Carina Soares Noda – a doutora Natureba -, explica que o propósito da organização é levar alegria para todos os pacientes, acompanhantes e colaboradores do hospital. O projeto em Pelotas é um segmento de Santa Maria e já conta com 18 voluntários que abrem suas agendas para levar um pouco de alegria aos hospitais. Hoje a parceria, além do HE, também ocorre no Hospital Universitário São Francisco de Paula. “Na verdade, é muito mais gratificante para nós ao ter um retorno das pessoas que precisam de um abraço”, diz o professor de Educação Física, Carlos Magno, mais conhecido agora como doutor bagunça. “Aqui é onde a gente se diverte, pois todos têm sua criança interior”.