Na segunda-feira (7), o prêmio Nobel de Medicina foi concedido aos cientistas Victor Ambros e Gary Ruvkun por seus estudos com microRNAs. A honraria destaca a relevância das pesquisas genéticas na compreensão do funcionamento dos organismos. No curso de biotecnologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), essas pequenas moléculas são objetos de pesquisas desde 2015. Com isso, oito patentes já foram produzidas nos laboratórios da universidade em parceria com instituições estrangeiras e empresas multinacionais.
Além dos longevos estudos em genética, as pesquisas com microRNAs são soluções mais tecnológicas que podem esclarecer perguntas científicas que não são respondidas pelos genomas e gerar soluções em forma de produtos nas mais variadas áreas. A partir das moléculas foi possível, por exemplo, o desenvolvimento de algumas das vacinas da Covid-19.
No laboratório de Genômica Estrutural da UFPel, os microRNAs são utilizados para diagnósticos de fertilidade em bovinos e humanos, detecção de poluição na água e de respostas imunológicas de animais.
As pesquisas são desenvolvidas em parcerias com outras universidades, como a USP e a Universidade da Califórnia em Davis, assim como com empresas. Neste ano foi assinado o contrato com uma multinacional para o compartilhamento da patente que mapeia a fertilidade de bovinos. “Para o desenvolvimento da tecnologia final”, diz o coordenador do grupo de pesquisa e superintendente de inovação da UFPel, Vinicius Campos.
Em outro dos estudos do grupo de pesquisadores foi descoberto que, além dos genes, os microRNAs também influenciam nos níveis de fertilidade das pessoas.
O que é um microRNA?
É uma molécula que transmite informações do DNA, instruindo as células do organismo para regular a produção de RNAs mensageiros que determinam as expressões genéticas, como a cor dos olhos ou a predisposição para alguma doença. “Ela serve para regular como o nosso DNA funciona, em qualquer organismo vivo, por isso que pode utilizá-la no diagnóstico de doenças, até na produção de alimentos”, explica Vinicius Campos.
Solução para a produção de tilápias
Uma das últimas descobertas que já está em fase de registro de patente é da doutoranda em biotecnologia Amanda Weege. A estudante utilizou os microRNAs como uma ferramenta para melhorar o sistema imune das tilápias. A solução é uma demanda para a produção do peixe, que tem um grande mercado de consumo em todo o país e é afetado por patógenos e pela queda de temperaturas.
A descoberta será utilizada por uma multinacional de vacinas, na aplicação junto com o imunizante nos peixes. “Os patógenos podem causar grandes perdas para o produtor, então a vacina é bastante utilizada para evitar a perda massiva”. Parte da tecnologia desenvolvida pela estudante também foi aprimorada por ela em um laboratório da Califórnia.
Detecção de poluição
Já o estudante Antonio Pagano utiliza os microRNAs como um biomarcador de poluição em rios que têm peixes em extinção. A tecnologia foi transformada em uma startup que produz os testes de contaminação. “A gente vê se um ambiente está poluído quando a gente vê que o peixe apresenta aumento ou diminuição deste microRNA específico”, explica.