“As mães querem amamentar e alguém que dê a mão nessa jornada”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Segunda-Feira25 de Novembro de 2024

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“As mães querem amamentar e alguém que dê a mão nessa jornada”

Natural de Pelotas, Carina Uez, 32 anos, é cirurgiã-dentista especialista em aleitamento materno

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“As mães querem amamentar e alguém que dê a mão nessa jornada”
A história de Carina com a amamentação começou com a gravidez do primogênito, Pietro. (Foto: Divulgação)

Natural de Pelotas, Carina Suez, 32 anos, é cirurgiã-dentista especialista em aleitamento materno. Sua história com a amamentação começou com a gravidez do primogênito, Pietro, quando por falta de informação ela encontrou dificuldades para amamentar. Na gravidez da segunda filha, Marina, dez anos depois, tinha interesse em resolver essa pendência. Por isso resolveu estudar sobre o assunto. Com o tempo, passou a ajudar outras mães que enfrentavam o mesmo desafio. Hoje, Carina atende consultoria de amamentação presencialmente e online para todo o Brasil, além de cursos sobre o aleitamento materno.

Como a sua experiência pessoal com a amamentação influenciou sua abordagem ao ajudar outras mães?

A sensação mais marcante quando não consegui amamentar o Pietro foi a de que eu tinha me tornado uma mãe dispensável, que aquele ser, até então dependente só de mim, agora poderia ser cuidado por qualquer pessoa, e eu tinha falhado na única coisa que seria exclusivamente nossa. Com isso, entendi que não estava tudo bem não amamentar, que as mães querem amamentar e alguém que dê a mão nessa jornada. O maior aprendizado foi nunca subestimar os sentimentos dessa recém-mãe, que está vivendo um puerpério, por si só desafiador, e ainda vive dificuldades na amamentação. Inclusive, é consenso na literatura científica que a amamentação é um protetor da depressão pós-parto, tanto pela secreção hormonal de ocitocina como pela autopercepção de valor e autoestima. Gostaria de ter sido alertada na minha primeira gravidez do quanto a amamentação pode ser desafiadora, e ter sido instruída a estudar sobre o assunto.

Na sua opinião, quais são as desinformações que circulam sobre a amamentação?

O mais comum é que o leite materno é fraco ou não é capaz de sustentar todos os bebês. Uma grande mentira, já que o leite materno muda a todo instante para atender as necessidades específicas de cada momento do bebê, inclusive dentro do ciclo circadiano, oferecendo hormônios como a melatonina no período da noite e o cortisol no período do dia. Essa sensação acontece por dois motivos: o leite materno é alimentação balanceada, enquanto a fórmula é um alimento ultraprocessado, o que faz com que o leite tenha uma digestão mais rápida; além disso, a alimentação por fórmula geralmente é dada na mamadeira, que oferece pouquíssimo esforço para que o bebê se alimente, fazendo ele ingerir mais do que o necessário, enquanto no peito o bebê precisa de mais tempo e esforço para extrair o leite.

E os mitos?

Outro mito a ser quebrado é que o bebê só precisa de leite materno até os seis meses, depois não tem mais necessidade. A OMS indica aleitamento materno exclusivo e em livre demanda até os seis meses e continuado até no mínimo dois anos de idade. Mesmo que a mãe retorne ao trabalho, esse aleitamento deve continuar, com a mãe extraindo e estocando leite para ser oferecido na ausência dela.

Quais são as inovações recentes ou mudanças no campo do aleitamento materno que mais chamaram sua atenção?

O manejo do sono na amamentação. Essa queixa é muito grande entre as mães, principalmente as que amamentam. Já temos evidências de que ser alimentado por fórmula não melhora a qualidade do sono e que os fatores comportamentais da família são muito mais impactantes no estabelecimento do sono saudável. O poder do leite materno muda expressões genéticas de doenças da vida adulta, ou seja, mesmo que eu tenha herdado o gene de alguma doença, ser alimentado por leite materno pode “silenciar” esse gene e fazer com que essa pessoa não desenvolva determinada doença. Mas o que minhas pacientes mais estão amando são as novidades no tratamento da baixa produção de leite, com a junção de manejo, estimulação física e até alguns medicamentos.

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