Natural de Rio Grande, Gabriel Gas, 29 anos, conheceu o graffiti em 2008 através de um amigo da área de artes visuais. Interessado, apurou os conhecimentos e habilidades sobre a arte urbana. A partir daí, atribuiu trabalhos a diversos lugares do Rio Grande do Sul e participou de eventos envolvendo a cultura hip-hop. Em 2019, fez sua primeira exposição solo, DOISMILEDEZ, seguida por Segmento Composto, em 2020. Exerceu o papel de artista em oficinas, como o Mais Educação, já extinto, Festinha da Árvore e projetos escolares internos. Além disso, representa o graffiti em palestras e eventos normalmente relacionados a causas sociais.
Como se deram as suas primeiras experiências com o graffiti?
Um pouco depois de já ter tido outras experiências com spray. Depois de muito tempo, eu tive aula com um graffiteiro em um projeto social, onde havia oficinas de todos os elementos da cultura hip-hop. Lá, de fato, eu pude entender o que era o graffiti, os estilos, e por isso meus primeiros contatos foram em 2008. Meu primeiro graffiti foi em 2010, e é por isso que eu comemoro um aniversário simbólico desde então. Não notava talento nenhum, desenhei pouco ao longo da minha infância. Fui ter o primeiro contato com o desenho e fazer virar um hábito quase diário depois dessa oficina. Não foi talento, foi muito trabalho.
Com mais de 15 anos de graffiti, o que essa arte representa para você?
Representa tudo. Uma possibilidade de ver o mundo, entender e fazer parte dele enquanto alguém que não está só “fazendo peso”. Construir algo com a arte é conversar com as pessoas, criar links com muita gente. A gente produz porque vemos sentido, e depois de um certo ponto não é mais da gente, é de todos. Desde que eu associei isso, minha vida caminha nessa direção. Hoje, mais do que nunca, representa o meu foco. É a minha prioridade na vida e tudo está relacionado: saúde, bem-estar, qualidade de vida, objetivos e a empresa. É onde eu deposito todas as minhas energias.
Como você avalia o processo de desmarginalização da arte urbana no decorrer dos últimos anos?
Tem muita hipocrisia no país, as pessoas acabam valorizando o que é conveniente. Dentro da arte urbana não é diferente. O pessoal finge que não vê várias artes que são fundamentais para a identidade do país e que são genuínas e autorais, como a pichação. Tentam justificar a arte a partir de valores morais. O pessoal gosta de várias artes urbanas, mas reprime tantas outras, fazendo com que coisas novas deixem de existir. Se o país andasse na direção de investir na arte genuína daqui teria muita coisa acontecendo. O país é rico, tem muita cultura que só acontece de forma independente.
Como o graffiti pode se aliar às causas de cunho social?
A própria cultura hip-hop se fortalece e cresce na perspectiva do social. Acho que se não existisse racismo, talvez não existiria hip-hop ou pessoas precisando se expressar, artisticamente falando, sobre os problemas das periferias do Brasil, da mulher preta da periferia. É isso que o hip-hop faz, possibilita que a gente tenha voz para falar sobre a realidade. Além disso, essa cultura tem a função de continuar salvando pessoas. Me considero um desses exemplos, tinha tudo pra dar errado. Se não fosse o hip-hop, vários dos meus amigos não estariam mais vivos.