Não existe solução mágica para lidar com as cheias da Lagoa dos Patos. Esse é o recado que se tira do estudo elaborado pelo Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS) sobre um potencial canal de escoamento extra na Lagoa dos Patos para evitar novas cheias. Por mais óbvia que a resposta seja, foi preciso um estudo para embasar a decisão. Ainda bem!
A ideia de abrir um canal extra, um “talho no braço” lateral do Estado, chegou a ser ventilada por figuras do governo federal como uma medida prática para esvaziar a lagoa durante a tensão das enchentes. Além de uma atitude irresponsável, agora sabe-se que seria pouco efetiva. Sorte que já na época a UFRGS agiu rapidamente para conter esse impulso. Uma tomada de decisão dessa magnitude sem grande reflexão e embasamento forte poderia gerar impactos econômicos e ambientais imprevisíveis para toda a costa doce gaúcha.
Agora, urge pensar em algo sólido para que o escoamento de potenciais e prováveis novas chuvas fortes no restante do Estado não seja mais um problema tão grave por aqui. A Lagoa dos Patos acaba sendo uma “refém geográfica”, já que há apenas duas saídas – via São Gonçalo e via canal da Barra, em Rio Grande – e detalhes como o nível do mar, da Lagoa Mirim e do Oceano Atlântico, bem como a direção do vento, podem represar a água por aqui.
Algo precisa ser estruturado para que um próximo evento climático extremo tenha dispositivos de segurança para serem encarados. Fora o reforço em diques nas cidades e o desassoreamento de canais e lagos, os governantes devem encomendar estudos que lidem com essa possibilidade. Todo mundo torce para que não se repita, mas, caso se repetir, vamos acabar torcendo e rezando para a Zona Sul não alagar sem um pingo de chuva sequer novamente?