Após enfrentar os desafios impostos pelo diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, muitas mulheres passam pelas dificuldades causadas pelas sequelas da doença. A intensidade das quimioterapias, radioterapias e as decorrências da mastectomia geram impactos na qualidade de vida das pacientes, e isso pode levar anos para ser amenizado. Diante disso, uma pesquisa tem observado há mais de um ano como os efeitos da prática do exercício físico podem ser uma alternativa para atenuar os sintomas.
Conduzido pelo aluno de doutorado da faculdade de Educação Física da UFPel (Esef), Victor Pinheiro, o estudo chamado Watermama seleciona mulheres que terminaram o tratamento para a prática de atividades físicas por 12 semanas. A seleção é feita por sorteio que define a modalidade adotada: parte delas faz hidroginástica e a outra caminhadas. Também há um terceiro grupo de observação, que não realiza as atividades. Posteriormente será realizado um comparativo entre todas as participantes.
Com isso, o pesquisador busca verificar quais efeitos o exercício físico tem em diversos aspectos da saúde física, cognitiva e mental das participantes. “O tratamento é extremamente pesado, elas apresentam diversos sintomas durante e, após, são anos de recuperação para que elas possam voltar à vida normal”, explica.
De acordo com o educador físico, entre os principais sintomas estão altos níveis de fadiga, problemas associados à queda de níveis musculares, falta de memória, dificuldade para realizar atividades básicas, dores nos braços, ansiedade e depressão. “É um processo lento, impacta a imagem corporal também, elas perdem os cabelos, têm ganho de peso durante o tratamento”, diz sobre fatores de dificuldade.
Resultados preliminares
Iniciada em fevereiro do ano passado, a pesquisa deverá ser concluída no segundo semestre de 2025. Até o momento 41 mulheres já passaram pelo estudo e até a conclusão mais um grupo deverá ser selecionado. Com a análise ainda em andamento, o pesquisador diz que é difícil falar sobre os resultados. No entanto, com os dados preliminares foi observada uma melhora da funcionalidade física das participantes.
“Elas passam por vários testes antes de começar essas 12 semanas de atividades e, após a intervenção, voltam para realizar os mesmo testes de novo. Nós temos visto uma melhora em tarefas do dia a dia, caminhar certos trechos, força muscular, isso tem mostrado resultados bastante satisfatórios”, afirma sobre o método do estudo.
Para as pacientes os resultados já são claros
Para um dos grupos de participantes, entrar na piscina do Clube Brilhante e fazer hidroginástica duas vezes por semana foi uma mudança completa de qualidade de vida. Conforme os relatos delas, os exercícios combinados com a água morna foram os melhores remédios para as dores físicas e limitação de mobilidade.
A modalidade, que de outra forma elas não teriam acesso devido ao custo e aos gastos que já são despendidos com exames e medicamentos do período de remissão, também foi responsável pela socialização e melhora da autoestima. “Nós conseguimos nos ver novamente e enxergar o pós-doença. Esse acolhimento fez a gente sair de casa e viver de novo, foi uma recuperação física e mental”, relata Cátia Campos, 46 anos.
Ela conta que antes das atividades não era possível levantar totalmente o braço pelas limitações da mastectomia, movimento que hoje está restabelecido. “As pessoas acham que está curada e é vida que segue, mas é muito árduo, a gente está se readaptando”.
Da mesma forma, Andria Cassal, 38 anos, relata que a vida após o diagnóstico de câncer nunca mais volta a ser a mesma e que lidar com os prejuízos do tratamento é um grande desafio. “Mas a atividade física tem sido um remédio para nós que estamos em remissão, é essencial”, diz.
Já Lucia Helena Blass, 63 anos, descobriu no grupo de hidroginástica que ela não era a única a enfrentar os sintomas e dificuldades do pós-câncer. “Eu pensei que só eu sentia isso, mas as outras também sentem e na conversa fomos nos achando umas com as outras. A gente se sente melhor até em se olhar no espelho”.