Empreendedorismo feminino mais profissionalizado
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira20 de Setembro de 2024

Novos negócios

Empreendedorismo feminino mais profissionalizado

Conforme pesquisa do Sebrae, 34% das mulheres têm pós-graduação

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Empreendedorismo feminino mais profissionalizado
Associação de Artesãs Redeiras do Extremo Sul comercializa itens artesanais feitos a partir de redes de pesca e escamas de peixes. (Foto: Divulgação)

Mais mulheres estão apostando em empreender nos últimos anos. Especialmente, após a pandemia do coronavírus, o número de empreendimentos liderados por mulheres vem aumentando no Estado. Apesar de muitos avanços, de mais acesso à informação e opções de busca de apoio para desenvolver um novo negócio, ainda são muitos os desafios enfrentados por quem quer começar.

Uma pesquisa do Sebrae com 734 empreendedoras gaúchas mostrou que os setores mais procurados pelas mulheres são na área de serviços (45%), seguida pelo comércio (36%), Indústria e agronegócio (8%). Grande parte das empreendedoras têm ensino superior completo (29%) e a maioria tem pós-graduação (34%). Também, que 46% dos negócios pesquisados têm entre três e dez anos de existência.

Em Pelotas, o Sebrae e a Associação Comercial (ACP) são dois espaços que contribuem para o desenvolvimento das empreendedoras. A ACP, por exemplo, além de workshops, cursos, eventos para network, é responsável pelo Congresso Mulheres Empreendedoras. Já o Sebrae, além de qualificação, oferece atendimento personalizado para auxiliar na formalização de negócios, planejamento estratégico e resolução de desafios específicos.

Conforme a diretora de Projetos Especiais da ACP, Mara Alves Casa, para além do sonho de empreender, a escolha por ter o seu negócio tem estreita relação com a flexibilidade de horários. “Entre 45% a 60% das mulheres optam pelo empreendedorismo pela busca de independência, de ser dona do próprio nariz junto a necessidade de complementar a renda familiar”, diz.

Para quem pensa que o empreendedorismo está ligado à juventude, também se engana, pois a maioria das empreendedoras está na faixa dos 45 a 50 anos. Mara, que também é empreendedora da construção civil, possui espaços comerciais para locação e percebe que cerca de 80% de quem está buscando um aluguel comercial são mulheres, nas mais diversas áreas.

Diversificação

De acordo com Caren Vinhas, da Gerência Regional Sul do Sebrae Pelotas, o cenário do empreendedorismo feminino em Pelotas está bastante positivo e dinâmico. “As mulheres cada vez mais se destacam em diversas áreas, desde a gastronomia até a tecnologia, mostrando criatividade e resiliência”, diz. Na avaliação da gestora, a partir do período pós-pandemia, o empreendedorismo feminino se tornou mais profissional e diversificado.

Já é comum encontrar mulheres liderando negócios nas áreas de tecnologia, e-commerce, saúde e negócios sustentáveis. “Uma das principais características desse movimento é a busca por inovação e a adaptação às novas demandas do mercado”, completa. Negócios sustentáveis e que promovem o bem-estar social estão em alta, assim como o uso das tecnologias digitais como forma de expandir operações.

Dificuldades

À frente da Diretoria de Mulheres Empreendedoras da ACP, Theia Bender, destaca que a participação de workshops e eventos para a troca de experiências são importantes para ajudar aquelas que estão começando a aprender a apresentar e a vender o seu negócio. “É comum no começo a mulher falar de todos os motivos que a levaram empreender com muito mais destaque do que o objeto do seu negócio propriamente dito”, explica.

Também a jornada dupla de trabalho, que muitas vezes inclui cuidados com a família, atrapalha, muitas vezes, a dedicação ao negócio. A dificuldade de conexão com outros profissionais e investidores, os preconceitos de gênero que ainda persistem, estão entre as principais barreiras. “Muitas empreendedoras lutam para ganhar visibilidade em um mercado dominado por homens, o que pode impactar suas oportunidades de crescimento. Esses desafios exigem um esforço conjunto de políticas públicas, iniciativas privadas e apoio comunitário para que as mulheres possam empreender de forma mais igualitária e bem-sucedida”, completa Caren.

Associativismo e conhecimento

Case de sucesso há 15 anos, a Associação de Artesãs Redeiras do Extremo Sul, com produção localizada na Colônia Z-3, comercializa itens artesanais feitos a partir de redes de pesca e escamas de peixes para vários estados do país. Atualmente, o grupo formado por nove integrantes, dedicou um ano inteiro, o de 2009, na busca de conhecimento, antes do lançamento e comercialização dos produtos em 2010.

Acompanhadas pelo Sebrae desde o começo, a associação primeiramente definiu os materiais a serem utilizados e que fizessem alusão ao espaço em que viviam. A designer Karine Faccin propôs pensar em outras formas de utilizar as redes e escamas, para agregar maior valor aos produtos. “Ela sugeriu recortar a rede em fios, antes as peças eram feitas com pedaços de rede inteira, e o fio passou a ser usado no tear, crochê, tricô”, lembra a artesã e presidente da Associação de Artesãs Redeiras do Extremo Sul, Rosani Schiller.

O conhecimento antes de vender a primeira peça foi fator fundamental para o sucesso da associação, avalia Rosani. Integrante do grupo, a artesã Flávia Pinto, aprendeu a calcular o valor da sua hora de trabalho, dos itens que compõem o produto, para fazer a ficha técnica e precificar a peça.

“Tudo isso o Sebrae nos ensinou. Antes, não tínhamos nenhuma noção, de como montar uma vitrine, de como atender o público. Depois de todas as oficinas que participamos aprendemos a agregar valor ao produto com prata, cristais, pérolas de água doce”, comenta Flávia.

Além das nove mulheres, a associação contrata cerca de 20 pessoas responsáveis pela coleta da rede, limpeza e corte em fio. Hoje, 90% das vendas realizadas são de atacado, sendo a loja do Museu de Arte de São Paulo (Masp) um dos principais clientes.

Flexibilidade

Assim como considerável parte das mulheres que buscam o empreendedorismo, Ângela Medeiros é biomédica com pós-graduação e abriu sua clínica há cinco anos, na área de biomedicina estética, quando precisou se dedicar de forma mais intensa ao filho, diagnosticado com transtorno do espectro autista.

“A ideia inicial foi de abrir um espaço para mulheres negras que não se sentiam seguras em empreenderem. A clínica foi um divisor de águas para todas que nela passaram. Hoje a grande maioria já atua em outros locais e são mais seguras no que fazem”, relembra.

Desde o começo, foram diversos os desafios até a consolidação no mercado. A busca de suporte, segundo a biomédica, foi essencial para seu crescimento como empreendedora. “Para vencer as dificuldades, tive apoio da família, recorri ao marketing e busquei suporte junto a pessoas que trabalhavam na área de desenvolvimento de novos empreendedores” diz.

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