Mais de 50% dos domicílios não têm rede de esgoto
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira20 de Novembro de 2024

Em 12 municípios da região

Mais de 50% dos domicílios não têm rede de esgoto

Mesmo nas cidades com maior número de moradias conectadas, coleta não significa que os dejetos são tratados pelas gestões

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Atualizado quarta-feira,
18 de Setembro de 2024 às 08:56

Mais de 50% dos domicílios não têm rede de esgoto
Mais de 28 mil moradias em território pelotense não estão ligadas à rede. (Foto: Jô Folha)

Conforme os dados do IBGE, em 12 municípios da Zona Sul mais de 50% dos domicílios não têm ligação à rede de esgotamento sanitário. Somente cinco cidades têm mais de 70% de residências com conexão à rede coletora de esgoto.

Com a maior população da região, Pelotas registra 21% dos lares ainda não ligados à rede, o que representa 28,1 mil moradias. Já em Rio Grande o percentual salta para 60%, com 44,9 mil domicílios. Além disso, somente o acesso das casas à coleta de resíduos não significa que os dejetos são tratados.

Mesmo com um número bem menor de residências a serem atendidas, cidades pequenas como Aceguá, Amaral Ferrador, Arroio do Padre e Morro Redondo apresentaram os piores percentuais de coleta residencial de esgoto. Porém, o dado pode ser explicado pela grande extensão de zona rural desses locais. “Com as tecnologias e recursos de hoje é difícil colocar coleta em todas essas propriedades rurais”, explica o professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFPel, Érico Corrêa.

Em Arroio Grande, Pinheiro Machado, Pelotas, Jaguarão e Candiota, mais de 70% das moradias têm conexão com o esgotamento sanitário. No entanto, a ligação com a rede não é sinônimo de esgoto tratado e reintegrado aos corpos hídricos em boas condições. Como aponta o professor, mesmo com um dos melhores índices, 78,4%, Pelotas ainda está longe de ter um percentual parecido de tratamento dos dejetos: só cerca de 21,96% do esgoto gerado é tratado.

Deficiência no tratamento

“Podemos contar próximo de cem mil pessoas sem coleta. E do que é coletado, não é bem tratado, não temos um sistema eficiente de tratamento, o município está construindo a ETE Novo Mundo”, explica. Corrêa destaca que, ao considerar que nas valetas há resíduos de esgoto, boa parte da cidade está exposta aos riscos dos afluentes poluídos. “Tu estás expondo as pessoas e animais ao contato com o esgoto por meio de vetores como moscas e mosquitos, e apesar de ter passado por uma fossa, ainda está em forma bruta e na nossa cidade 50% é valeta”, diz.

De acordo com o Sanep, com a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Novo Mundo, que será responsável pelo tratamento de todo o esgoto coletado na zona norte da cidade e atenderá diretamente cerca de 120 mil pessoas, o índice de esgoto tratado deverá subir para aproximadamente 40%.

Desafios do Marco do Saneamento

Apesar dos números da região, o déficit de saneamento não é um problema restrito à Zona Sul, mas de abrangência nacional. Corrêa considera que para alcançar o Marco Legal do Saneamento as cidades precisam de suporte do governo federal com recursos e acesso a financiamentos de longo prazo. “É um desafio muito grande, mas isso não adianta ser colocado somente na conta do Sanep, temos que ter grandes investimentos federais”.

O Marco Legal do Saneamento é uma legislação federal que estipula que, até o final de 2033, 99% da população brasileira deve ter acesso a água tratada, e 90% a coleta e tratamento do esgoto. “É um desafio nacional, temos um déficit de saneamento muito grande, se não vier dinheiro federal não tem como fazer”, conclui.

Dificuldades de Pelotas

“Rio Grande não é muito pior do que nós”, analisa o professor sobre o cenário da cidade portuária em comparação a Pelotas. Para Corrêa, além da falta de tratamento de esgoto, a cidade também enfrenta outros desafios do saneamento básico, como a coleta de resíduos.

“Pelotas coleta 200 toneladas de resíduos por dia. Teríamos em torno de 60 toneladas de material reciclável, mas chegam nas cooperativas de reciclagem dez toneladas por dia. Nós estamos pagando para fazer errado e levar até Candiota”, diz sobre a falta de separação adequada do lixo pela população.

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