O problema de poluição urbana em Pelotas é gerado principalmente pelo acúmulo de resíduos, em especial próximo às lixeiras. Os locais têm servido também como banheiro para alguns moradores em situação de rua, que defecam e urinam nas sarjetas.
Não bastasse o impacto visual e o incômodo pelo mau cheiro, o cenário gera um ambiente propício para o surgimento de pragas, como ratos, baratas e mosquitos, além de potencializar o aparecimento de moscas. Tudo isso expõe um cenário comum nas ruas e descortina a carência de políticas públicas eficientes em um município com quase quatro mil pessoas sem moradia, segundo levantamento do Ministério Público (MP) divulgado em julho.
Na visão de Diego Rosa, 42, que administra uma loja de eletrônicos entre as ruas Voluntários da Pátria e General Osório, o problema do lixo é causado na maioria das vezes por catadores de materiais recicláveis. Segundo ele, muitos desses trabalhadores reviram os resíduos dentro da coletadora e acabam retirando boa parte deles no meio desse processo, não colocando de volta na lixeira a porção que não vão levar.
Atitudes repugnantes
Enquanto espanta mais uma das moscas que insistem em permanecer diariamente no estabelecimento, o administrador da loja conta que o desleixo não provém somente dos catadores e moradores em situação de rua. “Tem um senhor, que tem um negócio aqui perto, que não tem banheiro no imóvel. Ele urina em uma garrafinha e coloca ali [no lixo]. Só que em vez dele colocar ela fechada, esses dias a gente viu ele derramando dentro”, revela.
Na rua General Neto, próximo à esquina com a 15 de Novembro, Maria Wulff, 55, comercializa temperos e chás. Do outro lado da rua, um trecho com quatro contêineres de coleta frequentemente é o palco onde a mulher mais vê pessoas urinarem e defecarem.
Palavra do catador
O catador de material reciclável Elton Borges, 36, explica que as situações descritas por Maria e Diego Rosa são desconfortáveis para ele. No que diz respeito ao lixo, Borges aponta que procura sempre fazer seu serviço da maneira mais correta possível e acaba sendo julgado pela sociedade por ações de outros catadores. “Pelo desemprego, a gente pega uma carrocinha e sai para catar. Eu tenho pavor disso [sujeira]. Estou com a minha caixinha de lado. Tem catadores que não fazem isso. Quando eu vejo, eu repreendo. Porque fica feio para todos nós”, aponta.
O trabalhador relata que já viu muitas pessoas, sobretudo em situação de rua, utilizarem o espaço entre as lixeiras ou até mesmo dentro delas. “É homem, mulher. E tem banheiro. Isso é relaxamento. E acho que pensam: ‘já está tudo sujo e revirado mesmo, o que tem fazer ali?’. É complicado e nojento”, admite Borges. “E para acabar isso da poluição, só se fechar os contêineres, mas aí acabaria com o reciclador que quer fazer uma ‘moedinha’ de boa”, acrescenta.
Posição da prefeitura
Quanto às lixeiras, a secretária de Serviços Urbanos e Infraestrutura, Lúcia Amaro, diz que são recolhidas por funcionários também responsáveis pelo serviço de varrição. O que ocorre é a má utilização desses equipamentos, que seriam para lixo seco. Em vários locais, moradores depositam lixo doméstico orgânico nelas, em vez de o fazerem em lixeiras particulares. A secretária, no entanto, diz que essa é uma situação pontual.
A prefeitura ainda afirma que nas lixeiras é feito um recolhimento semanal nas principais avenidas e em pontos de acúmulo de lixo de descartes irregulares. No caso de acúmulo de lixo feito por pessoas em situação de vulnerabilidade, sempre que detectado, o recolhimento é imediato, desde que não sejam itens pessoais.