“Recebo relatos de pessoas que dizem que eu fiz uma diferença na vida delas”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira20 de Setembro de 2024

Abre aspas

“Recebo relatos de pessoas que dizem que eu fiz uma diferença na vida delas”

Sophia Mendonça tem um canal no YouTube onde relata a vivência dela e da mãe, ambas autistas

Por

“Recebo relatos de pessoas que dizem que eu fiz uma diferença na vida delas”
O canal Mundo Autista tem 72 mil inscritos e mais de 700 vídeos (Foto: Victoria Fonseca)

Como foi que vocês duas foram diagnosticadas com autismo?

O meu diagnóstico veio aos 11 anos e da minha mãe veio em função de que eu notei as características dela. A vida dela foi marcada por muitos desafios, embora de muitas conquistas também. Ela tem muita empatia com as pessoas, mas também muitas crises por coisas como alguns centavos errados no troco, então eu entrei em contato com o meu psicólogo. O diagnóstico dela foi dado aos 53 anos.

Quanto tempo tem o canal e qual o objetivo com os vídeos?

O canal tem nove anos. Nós relatamos as nossas vivências e também trazemos especialistas para fazer entrevistas. Nosso objetivo é tornar as informações acessíveis às pessoas comuns.

Como é o retorno do público?

Todos os dias eu recebo relatos de pessoas que dizem que eu fiz uma diferença na vida delas e se fosse só uma já valeria a pena. São pessoas muito diferentes, desde as mais humildes a até presidentes de multinacionais e que não falam publicamente do diagnóstico.
Várias pessoas se descobriram [com autismo] por causa nossa, principalmente da minha mãe, que foi diagnosticada já mais velha.

E o que motiva vocês a continuarem com os vídeos há tanto tempo?

Nós temos um alcance que muitas vezes não temos dimensão. Como eu disse, eu sempre quis fazer a diferença na vida de uma pessoa para que ela não se sentisse sozinha como eu e a minha mãe, como se fôssemos a única família autista no mundo. E isso me deu um sentimento muito gratificante. Parece que eu cresci sem ter medo da exposição, o que é engraçado para uma pessoa que sempre foi marcada pela fobia social. Eu fiz uma cirurgia de redesignação sexual em 2022 e tudo isso foi documentado pelo meu canal, então eu tive que não ter medo do julgamento e do olhar do outro.

Em breve um dos teus livros será lançado em Pelotas?

Esse foi o 11º livro que eu publiquei. Todos são sobre o autismo, mas eu sempre gosto de trazer um olhar diferente. O Metamorfose, o último, é sobre autistas trans, que foi uma pesquisa e dissertação apresentada na UFMG. Eu descobri que a transexualidade é oito vezes mais comum em pessoas autistas do que típicas. A gente queria fazer um livro sobre os relatos do lado mais sombrio do autismo, das dificuldades. Então juntamos relatos de várias pessoas e fizemos um romance e eu escrevi junto com a minha mãe. O livro será lançado pela biblioteca da Otroporto no dia 14 de setembro.

Acompanhe
nossas
redes sociais