Entre as décadas de 1940 e 1960 a população de São Lourenço do Sul contava com o serviço de carruagens funerárias da prefeitura. “Eles eram diferenciados, quem tinha condições pagava e o carro era decorado com cortinas de veludo e fitas douradas e os cavalos também recebiam os adereços. Quem não podia pagar era levado no carro simples sem nenhum detalhe de enfeite.” O relato da escritora Arita Martins Corrêa é mais um fato levantado pelo projeto Histórias de cemitérios, onde a morte e a vida se encontram, que o pesquisador e escritor Rodrigo Seefeldt está desenvolvendo.
A proposta da pesquisa é levantar fatos e relatos peculiares sobre os funerais do início do século 20 para mostrar o potencial histórico e cultural da arte cemiterial. “Pode ser sim, uma parte do turismo cultural e histórico”, fala Seefeldt, que integra o projeto turístico Caminhos Pomeranos.
Seefeldt relembra uma curiosidade registrada pelo escritor Edilberto Luiz Hammes, no livro Radiografia de um município (2010): “A Prefeitura Municipal construiu um carro fúnebre em 1947, mas a reclamação de todos os Lourencianos na época eram os negligentes e impróprios trajes usados pelo seu condutor”, relembrou.
Os trajes considerados inadequados pela comunidade eram atribuídos a outra função do cocheiro, que também trabalhava no recolhimento do lixo, que era “seu trabalho principal”, segundo Hammes. Para solucionar o problema, em 1950, um vereador solicitou crédito “à Câmara Municipal para comprar calçados e fardamento para o condutor”.
O próprio Seefeldt tem suas memórias e histórias peculiares relacionadas ao tema, porque a casa onde ele morou na infância, na localidade Boqueirão Velho, ficava ao lado de um cemitério. O pesquisador lembra que existem iniciativas semelhantes em São Paulo, como o Roteiro Mal-assombrado, do SP Haunted Tour, e Porto Alegre, o PoA Mal-assombrada, por exemplo.“Isso vem crescendo a nível de turismo cultural. A ideia é recuperar esse estudo cemiterial”, fala.
Além das carruagens, o pesquisador se propõe a levantar dados sobre os túmulos de grande vultos e sobre como eram os funerais. ‘Nós tínhamos também um empreendimento no Caminho Pomerano que o pessoal tinha um caixão para mostrar como eram os mais antigos”, comenta o pesquisador.
Improviso na despedida
O próximo passo é descobrir quais eram as funerárias da zona rural. “Por exemplo, os carpinteiros faziam os caixões. Muitas vezes o caixão era fabricado sob medida em poucas horas, ou seja, o carpinteiro era bom no trabalho. Como não tinha a facilidade de acesso, na região colonial, tudo era improvisado”, conta.
No Caminho Pomerano, Rodrigo Seefeldt recepciona os turistas e conta histórias da comunidade durante os passeios de ônibus, algumas delas acabam se relacionando com as lembranças que o escritor tem do cemitério ao lado da casa dele. “Pensei, o pessoal gosta dessas histórias, do aspecto cultural e histórico. Eu não sabia que o cocheiro era o mesmo que juntava o lixo, isso dá um personagem muito legal para fazer parte de uma história”, fala.