Perto de completar dois meses sem novos depoimentos, a CPI que investiga suspeitas de desvios no Pronto Socorro (PS) de Pelotas precisa encerrar seus trabalhos. Os parlamentares que conduzem a investigação estão há meses buscando ouvir o ex-diretor administrativo e financeiro do PS, Misael da Cunha, e o proprietário da empresa suspeita de receber valores duplicados, Matheus de Souza Leão.
- No caso Misael, levá-lo para depor, mesmo com uma condução coercitiva, seria infrutífero: o habeas corpus preventivo que ele obteve lhe garante o direito de ficar calado. Já Matheus tem o potencial de ser uma peça-chave para compreender o que acontecia no Pronto Socorro caso resolva falar o que sabe, se é que sabe e não tem medo de represálias.
Desde os primeiros depoimentos, de Márcio Slaviero e Odineia da Rosa, respectivamente diretor-geral do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e ex-diretora-geral do PS, ficou claro que Misael tinha poderes absolutos sobre as finanças do Pronto Socorro. Ao ficar calado, Misael reforça as suspeitas sobre si.
A CPI do Pronto Socorro é fruto de uma parceria positiva entre dois vereadores de campos políticos opostos, o presidente Rafael Amaral (PP) e o relator Jurandir Silva (PSOL). Essa união de adversários serve de exemplo positivo e engrandece o papel do poder legislativo. Em contraponto, aceitar que a CPI seja ‘enrolada’ e tenha seus trabalhos postergados indefinidamente enfraquece a câmara como instituição em sua prerrogativa de fiscalizar.
Jurandir Silva sustenta que já tem elementos suficientes para produzir um relatório. Frustradas as tentativas de ouvir Matheus e Misael, que se conclua o relatório e que os adversários reforcem sua união para defender o trabalho feito pela comissão até agora.
As descobertas da CPI podem não levar a uma conclusão sobre o que acontecia no Pronto Socorro, mas já são uma resposta para a população que acompanha o caso desde fevereiro, além de servir como material para a investigação em curso pelo Ministério Público. Se a CPI chegou no seu limite, resta acompanhar de perto e aguardar as conclusões do MP.