“O papel vai voltar, conforme o vinil para muitos voltou”

Abre aspas

“O papel vai voltar, conforme o vinil para muitos voltou”

Luís Antônio Oliveira da Silva, de 50 anos, segue a profissão do pai em uma banca de jornais no Calçadão de Pelotas

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Atualizado terça-feira,
20 de Agosto de 2024 às 10:04

“O papel vai voltar, conforme o vinil para muitos voltou”
Luís Antônio da Silva diz que não sabe fazer outra coisa da vida (Foto: João Pedro Goulart)

Como é o seu trabalho aqui?

Eu sou jornaleiro, agora estou migrando um pouco pra parte de sebo. Por motivos de internet, a gente perdeu muito o mercado. Mas como é uma coisa que eu sei fazer, optei por trabalhar agora com sebo. E trabalho com algumas outras coisinhas para complementar o fluxo de caixa. Eu tenho 31 anos de experiência. Comecei com 19 anos com meu pai. Foi o meu primeiro emprego de verdade. Quando eu fui trabalhar com meu pai foi pós-exército. Trabalhava ali na esquina do Banrisul, com a antiga Brasileira. Ele foi o primeiro ou o segundo revisteiro de Pelotas. Eu não faço ideia de fazer outra coisa da minha vida. Para mim, vir parar aqui onde eu estou foi uma luta que eu tive com a prefeitura. Porque a minha história toda foi lá, na esquina da Floriano com Andrade Neves. E eu vim parar aqui na Quinze de Novembro por motivos de obras e licitações. Mas estou contente e tranquilo.

Qual foi a influência do seu pai?

Se ele não foi o primeiro, foi o segundo jornaleiro da história de Pelotas, porque tem um mais antigo, um outro rapaz que já morreu, o Rudinei. Ele foi, se não me engano, o primeiro da cidade, e o meu pai foi o segundo. O nome do meu pai é Deni da Silva, muito conhecido no centro da cidade pelos mais antigos […] Foi uma escolha que eu fiz quando eu tinha 19 anos. Não era uma coisa que eu pretendia, mas como eu saí do quartel e precisei trabalhar, o meu pai me fez uma proposta de pai para filho, de trabalhar com ele. A minha esposa, que já era minha namorada na época, optou também. Quando eu passei a ser responsável pelo serviço, pelo negócio do meu pai, aquilo ali já tinha caído na veia, já era. E nunca pensei em fazer outra coisa na minha vida. Sempre gostei de trabalhar aqui com o público. Eu tenho vários amigos, clientes que frequentam todos os dias a minha banca. Isso aqui é minha vida.

Quais são os desafios desse meio?

A paixão pelo meu trabalho era mais importante do que a dificuldade do meu trabalho. As dificuldades de hoje, concorrer com a internet, não me fazem pensar em desistir. Pelo contrário, eu acho que o cara tem que inovar. Que é o que eu tô fazendo com essa parte de sebo. […] A internet facilitou muito para o usuário do material de leitura. Com a pandemia, o pessoal migrou muito para o online, em tudo. Foi o que complicou de vez a parte de revistas e jornais, na pandemia. Depois, pós-pandemia, o pessoal se acostumou a receber no celular as notícias. Alguns voltaram, porque eu vi alguns que desistiram da leitura por celular e computador por causa de problema de visão, aquelas coisas. Voltaram, fizeram esse relato comigo: “eu tive que voltar para o papel porque tive problemas de saúde”.

O que você acha que ainda pode manter as pessoas apegadas ao papel?

O costume. Tem muita gente que não sente prazer que tem ao tocar no papel no celular. Eles precisam pegar o papel, folhear o papel, sentir o cheiro do papel. No computador é artificial e tu não consegue focar num assunto. Por exemplo, lendo uma folha do A Hora do Sul no celular, do nada entra uma mensagem e tu sai do foco. Eles preferem pegar o jornal, largar o celular de lado e folhear com concentração na notícia. Uma opinião minha agora: isso vai voltar. O papel vai voltar, conforme o vinil para muitos voltou, porque essa parte eletrônica está causando um problema nas pessoas.

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