A chegada ao Rio Grande do Sul da fumaça das queimadas que ocorrem na Floresta Amazônica tem causado preocupações. Desde a última quinta-feira, foi possível notar a névoa em algumas cidades, especialmente do norte do Estado. Agora, Pelotas também está na rota de passagem da fumaça. Segundo a especialista em meteorologia Camila Cardoso, e conforme imagens de satélite do Zoom Earth, datadas de 15 de agosto, praticamente todo o território gaúcho se encontra coberto em maior ou menor escala pela nuvem.
De acordo com a especialista, a fumaça é transportada das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, Bolívia e Paraguai em direção à parte Centro-Norte da Argentina, Sul do Brasil e Uruguai. Esse transporte e deslocamento de material proveniente de queimadas ocorre devido a uma corrente de ventos em aproximadamente 1,5 mil metros de altitude, denominada tecnicamente de “jato de baixos níveis”. Ela sopra no sentido Noroeste/Sudoeste, paralelo à Cordilheira dos Andes.
Dissipação
A chuva dissipa a fumaça que fica em suspensão na atmosfera, como quando o deslocamento de uma frente fria gera chuvas sobre a região. “À medida que a frente fria se afasta e o fluxo do ar volta a predominar do quadrante norte, e se for persistente por muitos dias, o transporte de fumaça pode se estabelecer novamente”, salienta Camila. Além disso, a persistência dos focos de incêndio garante que a situação se amenize de fato assim que começar a estação chuvosa na região Centro-Oeste do Brasil.
A influência de fatores climáticos também pode alterar a direção da fumaça. Essa situação está associada a um padrão atmosférico de escala sinótica (milhares de quilômetros de extensão). “Quando uma frente fria avança da Argentina em direção ao Sul do Brasil, muda todo o padrão do fluxo de ar, direcionando desta forma o transporte de fumaça para a parte central e Sudeste do Brasil, afastando portanto os poluentes do Sul”, explica.
Cuidados com a saúde
A qualidade do ar muito baixa pode contribuir para a formação de alguns riscos à saúde das pessoas. Conforme explica a médica pneumologista Silvia Macedo, esses riscos variam conforme o conteúdo de material articulado nesta fumaça e a sensibilidade daqueles que respiram este ar.
“Para quem tem alguma morbidade respiratória prévia, rinite, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite, enfisema etc.), quantidades não tão significativas de material poluído na atmosfera podem causar irritação ao aparelho respiratório e sintomas relacionados à descompensação dessas doenças de base, como crises de rinite e asma, exacerbações de doença pulmonar obstrutiva crônica, aumento da falta de ar, tosse e chiado no peito”, esclarece.
Já para pessoas que não têm doenças respiratórias prévias é necessário que haja uma quantidade de material mais significativa para a percepção de sua presença e desenvolvimento de sintomas. Nesses casos, os sintomas são irritação do trato respiratório, lacrimejamento ocular, irritação nos olhos, vermelhidão, coriza, irritação na garganta e tosse de irritação da via aérea alta.