Um projeto de extensão da Faculdade de Arquitetura (Faurb) vai produzir um diagnóstico da infraestrutura urbana e das residências na região das Doquinhas, com a aplicação de um questionário completo. Um dos enfoques é entender como as enchentes afetaram aquela população.
As entrevistas começaram há dois meses. Participam do projeto 20 alunos e quatro professores da Faurb, de forma voluntária. “O papel é fazer ensino, pesquisa e extensão, e aproximar o estudante à comunidade e a comunidade à universidade”, ressalta a professora Luísa dos Santos.
Os entrevistadores questionam aos moradores sobre iluminação pública, drenagem, esgoto, abastecimento de água, características da residência, dentre outros, e como eles foram afetados pela enchente, se houve ou não perdas materiais.
“Fazemos o cadastro socioeconômico para entender a composição familiar e fazemos o relatório da habitação”, diz Luísa. “A gente pergunta como eles foram afetados pela enchente, diretamente ou indiretamente, e quais são as demandas, se houve perda material ou dano estrutural”, detalha o estudante Arthur Sampaio.
Problema antigo
As Doquinhas dividem-se em duas partes. De um lado estão os quarteirões em que as habitações estão regularizadas pelo poder público e protegidas pelo dique de contenção. De outro, na margem do Canal São Gonçalo, estão dezenas de casas irregulares e em local com alto risco de inundação.
Estima-se que haja mais de 80 habitações no total, uma população de aproximadamente 500 pessoas. “Já conversamos com 50% delas”, estima a professora Natália Petry.
“Quase todas as entrevistas, especialmente com pessoas de mais idade, eles comentam que não foi a primeira vez que acontece [enchente] e o pessoal está habituado a na época de cheia se prevenir. Muitas casas foram construídas mais altas porque o pessoal chega sabendo que sobe a água”, revela Arthur.
Na parte regularizada do Quadrado, a água em maio chegou por dentro dos terrenos, pela canalização que deveria escoar diretamente no Canal São Gonçalo.
Cenário pós-maio
As perdas foram menores, se comparado com outros locais da cidade como a Z-3 e o Pontal da Barra. Os maiores danos foram em pisos e paredes, alguns eletrodomésticos, e em balcões de pia.
Os voluntários ainda não entrevistaram a população que vive no zoneamento mais afetado nas Doquinhas, das residências irregulares. “Quando começamos as entrevistas, aquela região ainda estava alagada e muitas famílias não tinham retornado para casa”, explica Luísa.
A expectativa é concluir a primeira etapa de entrevistas, nas áreas regulares, até o fim de agosto. Depois, em uma segunda fase, conversar com os moradores às margens do Canal.
Resultados
Debate-se sobre a possibilidade de remoção destes moradores desta zona considerada de alto risco. “A universidade não é a favor nem contra a remoção das famílias que estão na área de ocupação das Doquinhas, e sim de um diálogo junto a elas e entender os problemas que enfrentam no dia a dia, pois atualmente estão desprotegidas”, posiciona-se Luísa. “Somos a favor de um processo participativo junto aos moradores buscando uma solução”, conclui.