Solo danificado deverá impactar na produtividade das próximas safras

Colheitas menores

Solo danificado deverá impactar na produtividade das próximas safras

Sem a recuperação adequada após as chuvas, engenheiros agrícolas projetam que ao menos as próximas três colheitas devem sofrer

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Solo danificado deverá impactar na produtividade das próximas safras
Além de prejudicar a safra de soja deste ano, excesso de chuva no solo pode trazer prejuízos futuros (Foto: Lucas Kurz)

O grande volume de chuvas que atingiu a Zona Sul entre abril e maio, além de ter provocado perdas significativas nas lavouras, principalmente de soja, também causou a erosão do solo. A água que carregou a camada fértil da terra levou junto a capacidade produtiva adequada. Para a recuperação dos danos, engenheiros agrícolas explicam que são necessárias técnicas que demandam tempo e investimento. Dois fatores que sem o fomento financeiro do setor público tornam-se inviáveis para a maioria dos produtores e a consequência poderá ser baixa produtividade nas próximas safras.

Além da recuperação química com a adubação, a conservação da estrutura física do solo é fundamental. No entanto, a etapa é onerosa devido ao tempo que pode levar até anos para a recuperação total. Dentre as técnicas estão a rotação de culturas e o plantio mínimo, sem o revolvimento do solo. Atividades que não têm retorno financeiro como os cultivos anuais (soja, milho e arroz) e por isso não são aderidas.

“A conservação é para incrementar um dos principais elementos do solo, que é a matéria orgânica, e promover a estabilidade estrutural física”, explica o engenheiro agrícola e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Leandro Aquino. Com isso, ele salienta que as lavouras serão mais resilientes aos efeitos dos eventos climáticos extremos.

O impasse entre a regeneração e a rentabilidade

“O ideal seria que a área fosse isolada e adicionar cultivos que não são muito interessantes do ponto de vista econômico, mas do de recuperação do solo”, diz Aquino. Porém a prática esbarraria na falta de apoio financeiro do poder público. Para o engenheiro, são necessárias linhas de crédito para o manejo do solo, não somente para o plantio. “O produtor precisa ter suporte para poder investir um período em recuperação do solo”.

Da mesma forma, a professora da UFPel e engenheira agrícola Gizele Gadotti estima que a recuperação adequada dos solos pode levar até dois anos. No entanto, a espera para a conservação promoveria melhor produtividade e qualidade da produção, além da diminuição de oscilação nas colheitas.

Impacto a longo prazo nas lavouras

Sem a recuperação do solo, Gizele projeta que os altos custos de plantio terão como resultado baixa produtividade. “A gente até pode colher alguma coisa razoavelmente nessa colheita, mas esse solo não vai aguentar outra safra. Mas a maioria dos produtores não têm suporte para fazer isso”. Para a engenheira seria preciso que o próximo verão e o inverno fossem de manejo do solo para o alcance de uma safra melhor, em comparação a esse ano, em 2026.

“Sempre dá para plantar, mas com baixa produção e rentabilidade. Com isso, o produtor cai numa dívida gigantesca”. Nesse ritmo de produção e com a previsão de Lã Nina, a engenheira projeta que os danos no solo deverão impactar na colheita de no mínimo três colheitas.

Inviabilidade

As chuvas intensas deste ano resultaram na perda da qualidade geral dos grãos e de 30% da área plantada de soja na lavoura da produtora rural Tamires Paniz, de Pelotas. Para recuperar o solo, ela conta que as medidas adotadas serão adubação e fertilização, além da rotatividade de áreas entre o arroz e a soja.

Sobre a técnica com outros cultivos, a agricultora é enfática em afirmar que não há viabilidade. “Para nós isso é totalmente inviável. Imagina, não tem possibilidade de trocar uma cultura produtiva e rentável por algo que não tem retorno financeiro”.

De acordo com Tamires, diante da possibilidade de diminuição de produtividade por causa do solo, a única alternativa é “seguir em frente e acreditar que a próxima safra será melhor que essa”.

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