Peixes-anuais: pequenas preciosidades escondidas no Pampa
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Meio ambiente

Peixes-anuais: pequenas preciosidades escondidas no Pampa

Grupo estuda peixes-anuais presentes no bioma predominante da região Sul

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Atualizado sábado,
03 de Agosto de 2024 às 12:24

Peixes-anuais: pequenas preciosidades escondidas no Pampa
Austrolebias bagual é uma das espécies descobertas em Canguçu (Fotos: Acervo Pampiana/Rastro)

Os charcos, espalhados pela vastidão do Pampa, escondem pequenas preciosidades: os peixes-anuais. Presente por todo o Brasil, o peixe-anual tem espécies exclusivas do Rio Grande do Sul e estão no foco de pesquisadores que buscam conhecer e preservar esses animais que ainda são pouco conhecidos do grande público.

Só no Estado, mais de 40 espécies já foram identificadas, e 12 estão listadas para conservação no Plano de Ação Territorial (PAT) Campanha Sul e Serra do Sudeste, que abrange 18 municípios da região, de Dom Pedrito a Canguçu. Algumas dessas espécies são exclusivas da região e são criticamente ameaçadas.

As empresas Pampiana Consultoria Ambiental e Rastro Ecologia Criativa têm se debruçado para estudar os peixes-anuais presentes no Pampa. A iniciativa é financiada pela CEEE Equatorial através da Reposição Florestal Obrigatória (RFO), gerida pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema).

Dentro do projeto, que vai até 2026, o objetivo é tanto ampliar a pesquisa, em busca de mais charcos com a presença dos animais, quanto levar educação ambiental para que as comunidades entendam a importância de proteger as espécies.

“Esse projeto visa monitorar e entender a área em que 12 espécies de peixe-anual criticamente ameaçadas de extinção vivem no Rio Grande do Sul”, explica Gustavo Arruda, ecólogo da Rastro. Ele destaca que em Canguçu foram identificadas duas espécies, Austrolebias bagual e Austrolebias camaquensis.

Um predador gaúcho

Ele é um peixe pequeno, mas que representa muito o Pampa

O ecólogo afirma que, mesmo sendo um peixe muito pequeno, o peixe-anual tem uma personalidade única e é um predador agressivo. “Nas imagens que a gente fez dele comendo, dele caçando ou brigando pela fêmea, se vê que dentro do charco ele é um predador topo de cadeia. Ele é um peixe pequeno, mas que representa muito o Pampa, porque depende do solo do Pampa. Ele tem uma essência gaúcha.”

Um dos aspectos fascinantes dos peixes-anuais é a resiliência. Em períodos de seca, as espécies sobrevivem deixando os ovos enterrados no lodo do charco e, mesmo que os adultos morram, os ovos podem eclodir no próximo período de chuvas.

“Por isso, eles são conhecidos também como peixes-das-nuvens, pois a comunidade não entende como pode aparecer peixes num local que anteriormente estava seco”, comenta Luis Esteban Lanés, biólogo coordenador técnico do projeto e sócio da Pampiana Consultoria Ambiental.

Austrolebias camaquensis também foi descoberto na região

Embora essa capacidade de adaptação tenha garantido a sobrevivência dessas espécies, o especialista explica que elas são vulneráveis à ação humana. “Os charcos que eles habitam são pequenos e rasos, sendo facilmente drenados e seguidamente convertidos para uso agrícola”, diz Lanés. “Por isso, os peixes-anuais são o grupo de peixes mais ameaçado de extinção no Rio Grande do Sul e no Brasil”.

Arruda diz que o principal desafio é informar as pessoas que possuem o peixe em suas propriedades. Ele destaca que a degradação de charcos, seja pelo uso de máquinas, pela criação de açudes ou por cultivos mais agressivos, como o da soja, pode ameaçar a existência dessas espécies.

Segundo Lanés, o bioma Pampa se destaca pela diversidade desses peixes e já foram identificadas mais de 40 espécies no Rio Grande do Sul, a maioria exclusivas do solo gaúcho. Embora a ação humana possa pôr em risco os peixes-anuais, o biólogo afirma que é possível a convivência com os animais. “A adoção de boas práticas de manejo nas atividades agropecuárias é fundamental para evitar a extinção dessas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção no Pampa”.

Peixes-anuais no foco

Documentarista Cristian Dimitrius esteve na região para registrar peixes-anuais

As espécies de peixe-anual presentes em Canguçu chamaram a atenção do documentarista Cristian Dimitrius, que esteve na região para captar imagens para uma reportagem que será exibida na televisão. Dimitrius, que já produziu documentários para National Geographic, BBC e Netflix, é um dos maiores cinegrafistas de vida selvagem do mundo e já foi premiado com um Emmy.

A relação com o Pampa já é antiga, e não é a primeira vez que ele produz conteúdos em parceria com a Pampiana e a Rastro, como um episódio da série ‘Brasil Selvagem’ sobre a costa gaúcha, disponível da Disney+.

Agora, a ideia é dar prosseguimento e captar mais imagens do peixe-anual para fazer uma divulgação ainda maior das espécies, aliando o talento e a técnica de Dimitrius ao conhecimento científico dos especialistas da região.

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