A Petrobras anunciou a compra de 16 navios de cabotagem no começo de julho. O processo de renovação da frota da estatal reacende a expectativa de retomada do polo naval do Porto de Rio Grande, inaugurado em 2010 e que gerou emprego a 23 mil trabalhadores simultaneamente e trouxe desenvolvimento e renda na Zona Sul até o início do seu declínio em 2016.
Inicialmente, a companhia petroleira estatal firmará a compra de quatro navios de pequeno porte. A Ecovix, responsável pelo Estaleiro Rio Grande, no complexo portuário, respondeu à reportagem que “esta é uma oportunidade promissora para o mercado do Rio Grande do Sul”.
“Estamos analisando detalhadamente o edital para desenvolver a melhor estratégia para participar. No segmento offshore, não há oportunidades abertas no Brasil no momento. A última participação da Ecovix foi nas plataformas P84 e P85, que foram ganhas pelos estaleiros BrasFels, em Angra dos Reis (RJ), e Jurong, em Aracruz (ES)”, explica o diretor operacional da empresa, Ricardo Avila.
Poder público atento
Entidades governamentais da região mantêm-se atentas à oportunidade de contrato com a Petrobras. A prefeitura de Rio Grande considera o setor naval “um potencial para gerar muitos empregos e injetar recursos na economia local”.
“A prefeitura é favorável à sua manutenção, seja na construção, montagem ou desmantelamento de plataformas, ou na construção e reparos de navios”, manifestou o executivo municipal.
De acordo com o município, há “hoje [em Rio Grande] uma infraestrutura montada e mão-de-obra qualificada para trabalhar no setor, e a parceria constante entre o setor público e o privado para buscar trazer projetos para a cidade”.
Tentativa de retomada
A derrocada do polo naval em Rio Grande iniciou-se em 2016, com as plataformas sendo vendidas ou abandonadas e sem novos contratos. Veio uma onda de demissões em massa, empresas indo embora e a Ecovix entrou em processo de recuperação judicial.
A partir de então, o governo federal abandonou a ideia de fortalecimento da indústria naval nacional. Uma frente parlamentar foi criada na Câmara dos Deputados em 2017, com o intuito de retomada do setor. Atualmente, a frente é presidida pelo deputado Alexandre Lindenmeyer (PT), ex-prefeito de Rio Grande entre 2013 e 2020.
Neste ano, a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval atuou na mobilização do setor, em audiências públicas, conversas com ministros, órgãos públicos e visitas a estaleiros por todo o país – inclusive os de Rio Grande e São José do Norte. Criou-se, então, um grupo de trabalho para determinar novas políticas que contemplem o setor naval.
Estaleiros prontos
Cristiano Klinger, presidente da Portos RS, empresa do estado do Rio Grande do Sul que administra o Porto de Rio Grande, considera importante para os estaleiros EBR, em São José do Norte, e ERG, em Rio Grande, a tratativa de retomada da construção e investimentos da indústria naval.
“A gente segue atento sobre como a pauta é tratada. Para ambos os estaleiros é um tema fundamental, o estaleiro ERG tem a capacidade, tem o dique e é operacional, o que é fundamental para atrair os investimentos. É uma pauta muito importante para a região”, diz.
A atividade dos estaleiros, ressalta Klinger, é de investimento privado. A possibilidade de participação na licitação da Petrobras, portanto, não passa pela Portos RS.