O A Hora do Sul questionou os candidatos à prefeitura de Pelotas sobre a situação dos moradores de rua da cidade. Na edição de quarta-feira (24), o Jornal publicou dados de um levantamento do Ministério Público do Rio Grande do Sul que revelam que Pelotas tem 3.937 pessoas em situação de rua e é a cidade com a maior população de rua do Estado.
Esse número representa 26% de toda a população de rua do RS e coloca Pelotas à frente de cidades como a capital Porto Alegre, Caxias do Sul e Canoas. A prefeitura contradiz esses dados e afirma que são 743 pessoas inscritas no Cadastro Único, sendo de 300 a 375 pessoas em situação de rua ‘de forma sistêmica’, segundo o Centro Pop.
Foram feitas as mesmas perguntas a todos os candidatos. As respostas abaixo estão na ordem em que foram enviadas.
Fernando Marroni
Como candidato a prefeito, qual a sua avaliação sobre esse dado?
Temos apontados no mínimo 743 pessoas em situação de rua. Mas a prefeitura admite que só atende para 370 no Centro Pop, menos da metade. E no albergue da cidade há somente 70 vagas. Ou seja, para 734 pessoas, só 10% das pessoas encontram um lugar para dormir.
A que fatores atribui um número tão alarmante?
A pandemia e a redução da proteção social neste período são motivos. A recuperação leva tempo, mas o município precisa ter plano, uma política habitacional. No fim, a prefeitura sequer se cadastrou na nova etapa do Minha Casa Minha Vida.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
Vamos fortalecer o Serviço Social. Quando fui prefeito, construímos 1760 moradias; fizemos o Programa Renda Mínima, para as famílias com crianças, triplicamos o número de abrigos e criamos dois Centros para a Família.
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
Vamos ter projeto de desenvolvimento, para ampliar emprego e renda. Também com políticas estruturantes, com o Minha Casa Minha Vida, e com mais educação integral para os jovens, hoje apoiado pelo governo Lula. E para população vulnerável, vamos ter ação integrada, com apoio social, econômico e psicológico. Vamos ampliar a alimentação, a oferta nos Albergues e serviços do Centro Pop.
Fernando Estima (PSDB)
Como candidato a prefeito, qual a sua avaliação sobre esse dado? A que fatores atribui um número tão alarmante?
Os dados divulgados pela Prefeitura indicam um número bem abaixo do levantamento. Mas independentemente do número de pessoas em situação de rua, é uma questão que precisa ser olhada com atenção. E o governo municipal tem feito isso. Pelotas não é uma ilha. O cenário do pós-pandemia é de aumento da desigualdade e da extrema pobreza em todo o Brasil.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
Pelotas já tem uma política sólida de acolhimento. Mas é preciso ir além. Evoluir nas políticas públicas já empregadas pelo município, trabalhar com o conceito não somente de assistência social mas de desenvolvimento social e humano – que possamos acolher essas pessoas e oferecer os tratamentos necessários para superar, por exemplo, problemas como alcoolismo e drogadição e que possamos reinseri-los na sociedade. Acredito na qualificação e na capacitação profissional das pessoas como ferramenta de inclusão social e produtiva. É gerando emprego e oportunidade que a gente tira as pessoas de situações de extrema pobreza.
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
Investir cada vez mais em políticas de geração de emprego, renda e oportunidade. Trabalhar pela reindustrialização da cidade, formação do Distrito Industrial, atração de novos investimentos, valorização dos empreendedores, desburocratização da abertura de empresas, aceleração de projetos de aprovação de empreendimentos de construção civil, além de incentivar a inovação e a tecnologia, com a criação de novos parques tecnológicos. Tudo isso cria e fomenta um ambiente de desenvolvimento pra Pelotas.
Reginaldo Bacci (PDT)
Como candidato a prefeito, qual a sua avaliação sobre esse dado?
É visível para todos que a população de moradores de rua em Pelotas vem aumentando a cada ano que passa. Na minha opinião, isso se deve a falta de projeto de desenvolvimento econômico e social sustentável dentro de uma estratégia de curto, médio e longo prazos, capaz de gerar emprego e renda para a nossa população. Nos últimos 30 anos, Pelotas parou no tempo e as consequências estão aí: a cidade completamente abandonada e sem nenhuma perspectiva.
A que fatores atribui um número tão alarmante?
Os fatores são múltiplos. Nos últimos 30 anos, Pelotas não teve prefeitos com visão estadista, a exemplo do que foi o Dr. Irajá Rodrigues. Na verdade, tivemos apenas síndicos, uns até razoáveis e outros nem tanto, que cuidaram da zeladoria da cidade, sem se preocuparem com o que era realmente importante: o emprego e a renda da população. Outro fator está embasado na falta de uma política de regularização fundiária e habitação popular para aqueles que mais precisam. Junte-se a isso o fato de Pelotas ter quase 24 mil famílias vivendo do Programa Bolsa Família com uma renda média mensal de R$ 679,00, segundo dados do governo federal. Por isso, defendo que o maior Programa Social do Mundo ainda é o Emprego.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
Neste momento, Pelotas precisa de uma ou mais casas de acolhimento desta população. Não podemos obrigá-los a se estabelecerem em abrigos. A solução, me parece, será o Poder Público manter uma ou mais casas onde esses moradores possam fazer sua higiene pessoal, se alimentarem e passar a noite, se esta for a vontade deles. E claro, precisamos desenvolver políticas públicas capazes de acolhê-los e reintegrá-los ao processo produtivo local, mas de novo caímos na falta de um projeto de desenvolvimento local.
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
O PDT elaborou um Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável para 2025 a 2045. Queremos desenvolver a economia criativa incentivando a produção artística, eventos, entretenimento e festas populares que além de gerar emprego e renda em tempo curtíssimo ainda reforçarão nossa identidade cultural. Na outra ponta será desenvolver a economia sustentável buscando novas empresas e estimulando o empreendedorismo local. Temos pelo menos quatro segmentos que acreditamos ser vitais: a agroindústria moderna e sustentável aproveitando o que já temos; saúde com a produção de bens; tecnologia e inovação, pois temos a inteligência para isso; e a parte de energia sustentável: solar, eólica e hidrogênio verde.
Marciano Perondi (PL)
Como candidato a prefeito, qual a sua avaliação sobre esse dado?
É um índice lamentável para Pelotas que já foi a segunda cidade mais industrializada do estado, e agora a população sofre com o desemprego, isso contribui para o aumento dos moradores de rua.
A que fatores atribui um número tão alarmante?
Sem dúvidas o fato de a administração pública não ser amistosa com quem quer empreender na cidade, com a combinação de diversos fatores. Sabe por que falta emprego? Sabe por que é difícil prometer para os jovens um futuro melhor? Sabe por que os jovens não acreditam na escola e na qualificação profissional? São vários os motivos: burocracia; falta compromisso político com a atração de investimentos; desvalorização das instituições que geram emprego; falta de incentivo ao empreendedorismo; falta de qualificação de mão de obra competitiva; ausência de um plano de crescimento econômico; dependência dos recursos assistenciais e do governo e pouco investimento em infraestrutura.
São muitos, mas todos eles apontam para a economia. É um problema de gestão, de entender de onde vem e para onde vai o dinheiro e como isso prejudica a vida das pessoas.
As pessoas são mais importantes, é claro, mas sem recursos, as pessoas ficam largadas à própria sorte. Tem que cuidar, tem que amparar, mas ao mesmo tempo, tem que criar uma saída, apontar um caminho.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
Inicialmente temos que ter casas de acolhimento que funcionem e regras para que estes moradores não possam mais ficar na Rua, combinado cum um programa de reabilitação pois em sua grande maioria possuem problemas com drogas. Mas não basta só isso, após reabilitação precisamos encaixar estas pessoas no mercado de trabalho
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
Programa do pleno emprego, incentivando o desenvolvimento econômico no município, iniciando pela desburocratização do serviço público. E quem quiser investir em Pelotas tem que conseguir investir em Pelotas.
Eu sou prova viva de como é difícil investir na cidade, e isso tem que mudar. Pelotas tem que voltar a crescer.
Irajá Rodrigues (MDB)
Como candidato a prefeito, qual a sua avaliação sobre esse dado?
A discrepância dos dados existentes é muito grande, o que nos leva à necessidade de tentar estabelecer, através de um levantamento quando eu chegar a ser prefeito, demonstrando se realmente estamos em cerca de 400 moradores de rua, como diz a prefeitura, ou cerca de quatro mil, como diz o Ministério Público.
A que fatores atribui um número tão alarmante?
Entendo que esse quadro é decorrente em grande parte da pobreza regional que venho denunciando há muitos anos, o que inclusive me levou a apresentar um projeto de criação de um novo estado na metade sul, e essa pobreza se abate sobre a população. O que vemos em Pelotas é bem característico, tínhamos cinco grandes frigoríficos, não ficou nenhum. Tínhamos cinco grandes curtumes, não sobrou nada. Tínhamos 18 fábricas de conserva, sobraram bem poucas.
Tínhamos cerca de 45 estabelecimentos para industrializar arroz, sobrou pouco. Com apenas três esmagadoras de óleo de soja, por exemplo, ficamos longe do que éramos. Na região, o fechamento das atividades do polo naval nos demonstra que também se perderam muitos empregos e muita mobilidade na economia. Em razão disso, o número de pessoas sem atividade é muito grande, e algumas delas ficam ao relento, mas também existe outro aspecto, que é aqueles que se voltaram para as drogas e hoje são dependentes, e geralmente não querem nenhuma outra saída além daquela que escolheram, que é de permanecer em qualquer lugar, sem obrigação de prestar contas do seu status a ninguém. Se recusam a tomar banho, a comer nas horas indicadas, às vezes se recusam a dormir onde podem dormir.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
O que nós vamos encontrar com o novo levantamento de números vai nos indicar os caminhos a seguir, se ampliar a Casa de Passagem, se ampliar os abrigos ou se adotar outras providências, mas de qualquer maneira uma coisa certa: Pelotas precisa voltar a gerar empregos, e nós indicamos principalmente o caminho do turismo com a construção de um grande parque temático no entroncamento cinco das BRs para, a partir dali, com o Rio Grande retratado desde as os seus primórdios até a formação das pequenas e novas residências da época, representando uma a casa da Alemanha, outra casa da Itália, outra casa da França e dos vários formadores da nossa estrutura social, mas também gerando ali a apresentação de parques de diversões, em resumo, como qualquer um dos parques temáticos demonstradas é no mundo inteiro, em especial os da Disney ou aqui mesmo no país, em Santa Catarina, o Beto Carrero, mas tudo voltado para o Rio Grande do Sul, inclusive com as suas figuras próprias de animação.
Além disso, a partir daí voltar, para a utilização do que nós temos desde o Tholl, a Fenadoce, o Música pela Música, os nossos casarões, a nossa colônia, tudo isso se mobilizando de acordo com um comando geral de maneira a que tivéssemos permanentemente atividades turísticas atraindo gente de todo o Rio Grande do Sul de todo o Brasil e, quem sabe, do mundo.
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
O nós podemos fazer e devemos fazer também é utilizar o potencial de terrenos que a prefeitura tem para mobilizar a construção civil e através dela gerar empregos, mas não devemos esquecer que temos um potencial enorme na área de ventos e podemos partir para a geração própria de eletricidade através de aerogeradores e a partir daí criarmos a possibilidade de benefícios de fornecimento total ou parcialmente gratuito para indústrias que devemos atrair para vir para Pelotas, oferecendo junto a isso, quem sabe também terrenos.
Depois de tudo isso estabelecido, chegaremos a faixa do que se denomina hoje de hidrogênio verde com a disponibilidade de água doce que temos que é uma perspectiva extraordinária para chegarmos a Gerar então o número de aplicações de mão de obra de que necessitamos para que a nossa população seja melhor a aquinhoada, mais feliz e melhor nutrida.
Adriane Rodrigues (PL)
Como candidata a prefeita, qual a sua avaliação sobre esse dado? A que fatores atribui um número tão alarmante?
A meu ver é uma questão de prioridade. Fatores como comprometimento, foco na solução, menos cargos e secretarias, mais criatividade, incentivo ao desenvolvimento, menos conchavos com partidos e lideranças, mais empenho com a comunidade.
Quais caminhos acredita que a cidade para o acolhimento aos moradores de rua?
O acolhimento se faz com respeito e dignidade, oferecendo reciclagem, curso de formação, mas com a oportunidade de praticar o conhecimento. Casas de acolhimento como o CICI, Centro Integrado da Criança e do Idoso, onde as pessoas criam afetos, vínculos, desenvolvem senso de família, há um incentivo e motivação além do financeiro.
Quais políticas propõe para o combate à pobreza no município?
Política de combate à pobreza é algo muito amplo, difícil de falar em poucas palavras, mas tudo começa pela educação, qualificação de mão de obra, incentivo às empresas, pois é indispensável atrair oportunidades de emprego, também deve ser trabalhada a cultura, esporte e lazer, vez que são áreas sócio culturais educacionais e geradoras de renda. Somos uma cidade universitária, podemos utilizar muitas parcerias para qualificar a sociedade, atrair empresas, trabalhar em conjunto e abrir novas oportunidades de interesse para investidores.