Como começou o projeto que resultou na Associação de Artesãs Redeiras do Extremo Sul?
Surgiu em 2008 quando as artesãs lá da Z-3 procuraram o Sebrae e pediram ajuda, porque acreditavam no artesanato que era possível na Colônia Z-3. Quando surgiu o projeto do Sebrae nacional Território da Cidadania, elas foram contempladas. Na época eu era consultora e fui designada para trabalhar com elas. No finalzinho de 2008 a gente montou o grupo e 2009 foi um ano inteiro só de trabalho, quando as artesãs tiveram cursos, oficinas e palestras voltadas para o associativismo e cooperativismo, gestão, exposições e formação de preços e tiveram a ajuda da designer de produto. De agosto de 2009 a dezembro elas ficaram produzindo o que a designer dizia: faziam, consertavam, refaziam até chegar a esse produto. Essa coleção foi definida e lançada em São Paulo em fevereiro de 2010. O nome Redeiras surgiu em função da matéria-prima.
E qual é a matéria-prima da Associação?
Na época era a rede de pescar camarão, que não serve mais e é jogada fora pelo pescador, as escamas de peixe e a pele de peixe. Hoje tiramos a pele de peixe, só usamos para detalhes, porque é muito difícil recolher a pele sem dano, o que justifica pagar um preço alto pelo curtimento dela, qualquer corte na fibra, ao ser curtida, a pele fica com buracos e não dá para fazer nada. E não existe esse processo dentro da comunidade de tirar uma pele sem corte. Então eliminamos a pele de peixe para ficar com as escamas e com a rede reciclada.
Quantas famílias são beneficiadas pelo trabalho artesanal das Redeiras?
Diretamente, somos nove. Hoje eu faço parte da Associação. Em 2017 eu deixei o Sebrae e elas me “obrigaram” a entrar para a Associação, porque quando o Sebrae parou de apoiá-las, eu continuei pela dificuldade de comunicação, principalmente com os clientes, porque o telefone na época era muito ruim, então o meu telefone era o contato. Mas começamos com dez. Hoje, além dessas oito diretamente dentro da comunidade, tranquilamente umas 15 a 20 famílias se envolvem no processo e tiram do artesanato Redeiras sua renda principal ou complementar. Porque o processo inicial, que é pegar aquela rede suja, que é descartada pelo pescador, fazer a primeira limpeza, lavar e recortar em fio é praticamente tercerizado.
O que é preciso para transformar a rede descartada em fio?
Primeiro uma limpeza grossa, depois se tira as partes que não se precisa, os ferros, as cordas as partes de emendas. Depois começam a recortar na volta desviando dos buracos e emendas para fazer as bolas de fio. E é esse fio que vai para produção das peças.
Que produtos a Associação disponibiliza?
Basicamente acessórios femininos: bolsas, carteiras, chales, pulseiras, colares e brincos, nesse caso, temos de redes e de escamas de peixes. A maior parte das nossas biojóias são escamas e prata. As escamas são recortadas e lixadas, ela parece uma madrepérola.
Esse é um trabalho que também tem impacto ecológico também?
Sim, as praias hoje não encontram mais as redes. Na Z-3 não tem mais rede rolando, como tinha antigamente, e iam para o fundo da Lagoa (dos Patos). As escamas também, quando limpavam um peixe jogavam fora, agora a gente anda colhendo.
Em Pelotas os produtos estão no Mercado Central?
Sim, em uma loja que dividimos com o Ladrilã, que é uma associação também, e com os Bichos do Mar de Dentro. São três associações que congregam uma grande gama de artesãos.
Onde estão os principais clientes de vocês?
Estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste. Nós estamos entre os top 100 produtos artesanais do Sebrae, com isso temos acesso a feiras no espaço custeado pelo Sebrae. Agora em agosto vamos ao Salão do Artesanato em São Paulo, num espaço nobre. É uma feira maravilhosa pra nós.