O pré-candidato à prefeitura pelo Partido Liberal (PL), Marciano Perondi, se envolveu em um acidente com óbito no dia 25 de junho, conforme noticiou o A Hora do Sul no final de semana. Jairo Oliveira Camargo, que estava se deslocando para o trabalho, foi internado e faleceu no dia 8. A viúva, que não quis gravar entrevista, disse que esse era seu trajeto diário. A polícia investiga se havia câmeras próximas ao local. O caso pode ser enquadrado em homicídio de trânsito culposo, ou seja, quando não há intenção de matar – sujeito a pena de dois a quatro anos que pode ser transformada em serviços comunitários ou pena pecuniária.
De acordo com a titular da 3ª Delegacia de Polícia, Maria Angélica Gentili, o inquérito policial foi instaurado e as diligências estão sendo efetuadas, como por exemplo, intimações para as oitivas, investigações pela equipe da seção de investigação, com posterior juntada de relatório dessas diligências, entre outras que serão realizadas, que inclui averiguar se havia câmeras no local que possam ter registrado o fato.
O promotor de justiça aposentado e professor de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Fernando Gonzalez, diz que a tendência natural é a realização da investigação do fato e posteriormente a abertura de processo. “Se tinham testemunhas, a perícia no carro, isso tudo vai ser resolvido em processo”. Caso apontar para homicídio de trânsito culposo, o acusado irá responder. No caso em questão, não há implicações nas pretensões eleitorais do suspeito.
No sábado, Perondi procurou o A Hora do Sul para dar sua versão dos fatos e criticou a politização em torno do acidente, dizendo que o fato de ser postulante à prefeitura tem feito adversários entrarem em contato com a família da vítima pedindo que gravem vídeos falando sobre. No entanto, ele garante estar em contato com eles e oferecendo o suporte necessário. Confira abaixo:
Para onde estavas indo? Que horário foi o acidente? Explique em detalhes.
Florianópolis. Foi 6h30min da manhã, mais ou menos. Era um pouco antes do acesso à BR (116), estava escuro, ainda não tinha sol. Foi muito rápido. Quando vi, tinha batido. Estava a um metro, dois metros na minha frente. Não deu tempo de frear, fazer nada. Acredito que, como ele estava no lado esquerdo da pista, e eu bati no meio da pista, ele devia estar fazendo a conversão para atravessar a pista. Acho que foi virar para atravessar, não viu que vinha e acabei batendo. Tanto é que acabou batendo no farol e lateral esquerda. Só que foi uma pancada seca, quando bateu, ele bateu no carro, girou e bateu no chão. Acho que deve ter dado traumatismo craniano. É uma pena. Ninguém quer passar por um acidente, ninguém nunca imaginou passar por um acidente, muito menos com vítima fatal.
Tu estava sozinho no carro? Acionou socorro?
Estava sozinho. Liguei para a Ecosul, foi muito rápida. Deu cinco minutos, oito minutos no máximo e chegou. Daí chegou a ambulância, já fizeram a imobilização nele, no local, e colocaram ele dentro da ambulância. Estava só o pessoal da Ecosul ali e eles acabaram tirando fotos do veículo, da posição do veículo, de onde bateu, da placa do carro, pediram meu documento, tiraram foto, pediram meu telefone. Até questionei o porquê das fotos e de tudo, e ele disse que passaria para a Polícia Rodoviária. Tiramos todas as fotos, eles estavam indo para o hospital e eu disse ‘olha, vou seguindo, vou acompanhar o que passa no hospital, eu ligo para lá e vou pedir para alguém ficar acompanhando e vou seguindo viagem’. Depois de 40 minutos, mais ou menos, a Polícia Rodoviária Federal me ligou e disse ‘não, tu não poderia ter saído do local’. Mas eu prestei socorro para a vítima, foi tirado foto e tudo e ele disse que eu não poderia ter saído, mas eu estava longe. Aí eles falaram que eu não poderia ter saído, mas eu estava longe. Aí ele disse ‘tá, tu passa em um posto da Polícia Rodoviária, no primeiro que tu estiver, faz o bafômetro até para te resguardar, para não alegarem que tu estava alcoolizado e faz a tua declaração’. Então parei no posto, fiz o bafômetro, deu zerado e fiz minha declaração. Depois, na volta, eu daria a declaração na Polícia Civil. Mas eu liguei, conversei, passei minha declaração para a Polícia Civil e disseram que depois me chamariam.
Tu disse que tens contato com a família…
Auxiliei eles em tudo o que era preciso. Vi que não tinham UTI no Pronto Socorro, que não tinham o aparelho para fazer ressonância na cabeça. A família perguntou se eu conseguiria ajudar. Então, entrei em contato com vários hospitais, mas o que tinha ortopedia era só a Santa Casa. Então falei com eles, foram muito prestativos, conversei com um diretor do hospital que disse que ia fazer tudo para conseguir, entendeu que estava grave o acidente, e depois ele conseguiu uma UTI para ele. E aí a gente levou ele para a Santa Casa. Lá ele foi tratado.
E tu segue em contato com a família?
Estão utilizando o fato de eu ser pré-candidato a prefeito para politizar um acidente.
Sim, eu ajudei a família em tudo. Tenho contato com a família. Inclusive tem até partido político ligando para a família, incentivando eles a dar depoimento contra mim. Não vai acontecer porque a família é uma família de bem. Ela disse ‘olha, Marciano, a gente jamais vai fazer isso porque a gente entende que acidente acontece’. Disseram que estão utilizando o fato de eu ser pré-candidato a prefeito para politizar um acidente, como se fosse culpa minha. Então, a família entendeu. Tudo o que eles precisaram, desde a questão de hospital, como assessoramento, fui na delegacia com ela quando ele faleceu, meia depois que ele faleceu eu já estava lá, fui visitar ele no hospital, a gente foi na funerária, ajudei eles, comprei caixão, paguei túmulo para eles, para dar uma assessoria para a família. É uma família de gente boa.
Houve o acidente, tu voltou em casa, trocou de carro e seguiu viagem. Tu ficou bastante tempo fora?
Fiquei até domingo [o acidente foi na segunda-feira anterior]. Mas eu tinha contato com o hospital diariamente para saber como estava. Logo falei com a família, já mantive contato.
A Polícia Rodoviária Federal cita a palavra ‘desdém’ por tu ter seguido viagem. Como tu avalia essa crítica?
Acho que é opinião pessoal. Desdém pelo que? Se eu prestei socorro, mantive contato. Eu não sou médico, não consigo ficar dentro do hospital fazendo uma coisa por ele lá. Tudo o que foi preciso, eu auxiliei. Depois do momento que prestei socorro e encaminhei para o hospital, não tem mais o que fazer. Minha prestação de socorro acaba ali. Consegui depois auxiliar que ele fosse para a UTI, consegui mais médicos, tudo o que foi possível. O que acontece é que realmente achei que como a Ecosul já tinha tirado foto de tudo e ele já tinha sido encaminhado para o hospital, não tinha mais porquê ficar ali, depois eu me apresento na delegacia e relato o que ocorreu.
A Ecosul te orientou a esperar a PRF? Tu ficou sozinho ali?
Ele falou que o correto seria espera a polícia, mas não sabia quanto tempo iam demorar. Eles seguiram para o hospital e a gente saiu juntos e acabei seguindo. Como já tinham fotografado, não tinha porque ficar. Eu nem me toquei. Se foi socorrido… Depois a polícia entrou em contato e fiz a declaração no próximo posto.