“O pessoal gosta de mim porque sou uma guerreira e trabalhadora”
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“O pessoal gosta de mim porque sou uma guerreira e trabalhadora”

Desde 1995, Ana Lúcia Fagundes Nobre, cuidadora de carros de 58 anos, resguarda os veículos e presta serviços de limpeza automotiva na rua Princesa Isabel, entre Almirante Barroso e Santa Cruz, de forma afetuosa e gentil

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Atualizado segunda-feira,
08 de Julho de 2024 às 08:04

“O pessoal gosta de mim porque sou uma guerreira e trabalhadora”
São 28 anos atuando na mesma quadra, em atividade que conta com a parceria da comunidade das redondezas (Foto: João Pedro Goulart)

Como tu começou a cuidar e limpar os carros nesse ponto?
Eu sempre morei em Pelotas. Meus pais trabalharam com os Assumpção, depois trabalharam com os Oliveira, e aí se aposentaram. Meu pai é falecido, minha mãe também e moro na casa deles. Temos nove irmãos, mas três já são falecidos. Por enquanto, onde morar eu não tenho, mas vivo lá. E aqui o pessoal já me conhece, porque estou aqui há 28 anos. Então, procuro estacionar os carros direitinho, procuro tratar todo mundo bem. Se por acaso o pessoal não quiser colaborar comigo ou coisa assim, também não obrigo nem nada. Porque, na verdade, o meu serviço é mais lavar carro. Eu lavo muito carro. No momento, estava parado por causa dessas enchentes. Mas se o tempo continuar bom, consigo meu dinheiro, graças a Deus, trabalhando aqui nessa quadra.

Quantos veículos tu lava por dia?
Consigo mais de manhã, porque de tarde, às 14h, saio. De tarde, a quadra enche e geralmente o pessoal não pede pra lavar. Mas de manhã, consigo lavar uns cinco carros. Eu tenho uma parceria com um advogado da quadra, onde limpo os banheiros. Eu ajudo assim a cuidar a frente do escritório de advocacia e ele me cede a água. Chego 7h30min aqui de manhã, seja na chuva, no frio… Só não trabalho quando é feriado, sábado e domingo.

Por que a manutenção da amizade com a comunidade é importante no teu serviço?
Um pouco é de mim mesmo. Eu sou humilde, mas tenho o segundo grau completo. Mas, como sou homossexual, na época eles não davam emprego para esse tipo de gente. A gente sempre era excluído. Hoje, graças a Deus, a vida está um pouco melhor, mas com a minha idade já não adianta sair para procurar emprego. Eu pago meu MEI [Microempreendedor Individual], então daqui a pouco vou me aposentar, e vou levando a vida assim. Eu gosto do que faço, gosto de lavar carro, gosto de tratar com o pessoal. Aqui, por dia, passa muita gente diferente, chegam pessoas que tu já conhece. E o pessoal gosta de mim porque sou uma pessoa guerreira e trabalhadora.

Tu sente que a amizade que tu construiu com as pessoas contribui no teu trabalho?
É, através da amizade e confiança também. Eu trabalho com gente aqui que tem carros de 200, 300 mil reais, e me deixam a chave, me apoiam, é a minha vida que levo. E sou feliz, muito feliz mesmo.

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