O cinema nacional está vivendo um grande momento. A vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz em drama, Fernanda Torres, protagonista do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi uma das principais responsáveis pelo aumento na movimentação nas salas de cinema do Brasil. Selton Mello, seu parceiro de cena neste mesmo filme, também tem parte nisso. Após 24 anos, Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) voltaram às telonas em O Auto da Compadecida 2 e realizaram o melhor dia de estreia de um filme nacional desde a pandemia.
Esse momento joga luz sobre o cenário local. Pelotas, que já teve diversos e grandes cinemas, hoje conta com dois espaços comerciais e um cinema gratuito da Universidade Federal (UFPel). A professora dos cursos de Cinema da UFPel, Cíntia Langie, aponta que são diversos os motivos para o fechamento das portas de muitos cinemas antigos. “Antigamente a gente não tinha outras formas de entretenimento, não tinha televisão, então os cinemas eram a única forma de ver imagens de movimento. Mas com o avanço das cidades, a urbanização, a violência urbana, tudo fez com que as pessoas parassem de ir tanto às salas”, reflete a professora. Ela ainda afirma que essa é uma mudança de comportamento mundial e coloca os streamings como parte disso na contemporaneidade.
A situação do cinema nacional traz esperança de dias melhores. Cíntia conta que o orgulho sentido de Fernanda pode gerar um olhar novo para as produções brasileiras. “O cinema brasileiro é muito vasto, se faz muito filme de muita diversidade, muita qualidade, mas as pessoas ainda têm preconceito. E ela ter sido premiada pelo Globo de Ouro pode alavancar, sim, um melhor gosto para o cinema nacional”, diz.
Porém, Cíntia avalia que esse frenesi não terá impacto no aumento das salas. A professora acredita que para elevar esse número é preciso melhorar o parque exibidor brasileiro, o que demanda investimentos e políticas públicas. Outro ponto que ela coloca é a lucratividade. “O que vai oportunizar mais salas é que dê mais dinheiro ao negócio ‘sala de cinema’. Para isso, mais pessoas têm que ir ao cinema”.
Salas em Pelotas
A pandemia não foi um momento fácil para a indústria. Gabriela Isquierdo, diretora de marketing do CineArt, conta que ainda após o fim das restrições impostas pela pandemia de Covid-19 as pessoas seguiam com receio de frequentar as salas. “Mas hoje em dia as coisas já estão bem normalizadas. Em grandes estreias e grandes filmes sempre estão lotando”, afirma.
Ela aposta na “sétima arte” como uma programação em família, amigos ou na própria companhia. “As pessoas vão ao restaurante e também pedem comida em casa, e a mesma coisa acontece com o cinema”. No entanto, ela vê esse sucesso dos filmes brasileiros como exceção à regra. “Ainda Estou Aqui, por exemplo, teve movimento, ele realmente entrou no nosso top-10 filmes de maior público do ano. Mas no geral, o cinema nacional não gera tanto público”, afirma. Para este ano as expectativas são boas. “Tem várias estreias grandes para 2025 que geram muito movimento. Principalmente de filmes infantis e filmes de terror funcionam bastante também”.
Produções pelotenses
A UFPel é a única universidade federal no Rio Grande do Sul a oferecer os cursos de Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação. Daqui saem muitos profissionais qualificados para potencializar o Brasil como uma indústria cinematográfica. A carioca Kali Breder, graduanda dos dois cursos, conta que produzir cinema em Pelotas é um desafio por não ter tanto contato com emissoras e grandes produtoras.
Porém, ela vê o curso como um grande potencializador da arte audiovisual. “Os cursos possibilitam a formação de muitos profissionais todos os anos e tem diversos equipamentos que facilitam a aprendizagem. Além disso, produzimos sobre Pelotas e para Pelotas. Tentamos ao máximo distribuir pelos meios digitais para que todo mundo veja”, diz. Para assistir algumas das produções do curso basta acessar o repositório pelo site vimeo.com/user9201948.
A esperança dos dias de ouro do cinema nacional passa por Fernanda, por Kali e pelas salas da universidade. Que esse seja um incentivo para voltarmos de vez a prestigiar o cinema nacional e local.