“Sempre gostei de trabalhar, nunca fiquei parado”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira20 de Setembro de 2024

Abre aspas

“Sempre gostei de trabalhar, nunca fiquei parado”

Na tarde da última quinta-feira, Maurício Schneid, de 32 anos, vendia algodão doce no Calçadão de Pelotas pela primeira vez

Por

Atualizado sábado,
13 de Julho de 2024 às 15:14

“Sempre gostei de trabalhar, nunca fiquei parado”
Trabalhador, Schneid se define como um guerreiro que luta pelo que quer

Como você começou a vender algodão doce?
Hoje é o primeiro dia que eu estou vendendo. Eu vendia produtos de limpeza antigamente. Agora eu tô no algodão doce mesmo. Um amigo me incentivou. Ele disse ‘vende comigo’, aí eu vim. Fui lá na casa dele e comecei. O amigo dele que faz o algodão doce e a gente vende. Ele vai para os bairros e eu fico no Calçadão. É que eu não recebi ainda o pagamento dos produtos. Enquanto eu não receber, tenho que ter alguma renda pelo menos para manter. Quero voltar a vender os produtos de limpeza e estou juntando dinheiro para comprar os produtos, para continuar vendendo. E continuar vendendo o algodão também, que vai dar mais dinheiro.

E como é a venda dos produtos de limpeza que você faz?
Eu compro o insumo na loja e depois eu vou lá e faço em casa. Coloco uma porção e faço os produtos. Eu mesmo faço e vendo. Foi a minha ex-esposa que me ajudou. Comecei a fazer, e não parei mais. Passei três anos e meio com ela, e a gente se separou há quatro meses. Trabalhar aqui no Calçadão é bom. Porque a gente tem que fazer alguma coisa para tentar viver melhor a vida. Sempre gostei de trabalhar, nunca fiquei parado. Gosto de fazer alguma coisa para viver melhor. Estou estudando também e está tudo indo para frente. Eu tô fazendo o EJA, estou na 5ª série, mas eu já tô passando para a 6ª agora, daqui duas semanas. Estou fazendo as últimas provas.

Como foi a trajetória da sua vida?
Hoje eu vivo sozinho. Conheci meus pais, mas vivi mais com meus tios e irmãos. Morei em um abrigo por 23 anos, porque o meu pai me batia. O Conselho Tutelar tirou eu e o meu irmão, só que o meu irmão teve a sorte de ser adotado e eu não. Mas nunca tive nada do que reclamar porque eu sempre tive a bênção de Deus que tudo ia dar certo e deu. Eu saí do abrigo com sete anos. Depois, consegui comprar minha casinha, ter minhas coisas. Então não tenho nada que reclamar da vida. Na realidade, estou bem de vida agora. Agora estou bem. Eu me considero um guerreiro. Não digo um guerreiro, porque guerreiro foi Jesus. Ele que morreu na cruz por nós. Me sinto um cara abençoado por Deus. Sou um cara que nunca deixei de lutar pelo que eu queria.

Você tem sonhos a serem realizados?
Eu quero fazer uma faculdade de História. Estou estudando para isso, e quero ser professor, para dar aula até o segundo grau. Sempre gostei de História. Uma vez tirei dez na prova de História e tive o azar de perder ela. Aí eu não tinha como mostrar, ninguém acreditou. Meu objetivo agora é vender algodão doce até conseguir dinheiro para conseguir manter os produtos de limpeza e depois conseguir chegar a ser professor de História, é isso? Isso. Ou depois, ou fazer o curso de Enfermagem. Estou pensando nesses dois aí, não decidi ainda, mas um dos dois eu vou fazer. Eu estou com a meta até 2032 para estar formado em alguma coisa.

Acompanhe
nossas
redes sociais