Depois de um ano em que a cheia do Guaíba e da Lagoa dos Patos tirou as esperanças de trabalho e ganho dos pescadores das colônias do Sul do Estado, o surgimento de água salgada no fundo da laguna reacende a expectativa da categoria que depende da pesca.
Para quem conhece a água doce da costa, a aposta é de uma safra tardia, mas que pode ser intensa ou se prolongar além do período do defeso.
No Pontal da Barra, a reunião informal é no galpão onde são preparadas as redes na medida da malha permitida para cada espécie. Além da safra do camarão e da tainha, o grupo questiona a proibição da pesca do bagre desde 2016, sendo que é o único peixe a ter o ano inteiro na lagoa.
Uma resolução permite apenas que pescadores com licenciamento específico no Norte do Estado possam capturar esse tipo de peixe considerado em extinção.
“Essa medida deveria ser revogada”, diz o pescador Cláudio Antônio Nizola, 70, sendo 50 só de pesca. O trabalhador diz que já enfrentou enchentes, e claro que a de maio foi a maior, mas a lagoa nunca falha com os pescadores e que este ano terá crustáceo.
O colega de profissão, Marcelo da Rocha Duval, 54, acredita que haverá camarão, mas não arrisca comparar com as safras anteriores. “Ela pode ser tardia, porém intensa. Ou o crustáceo pode ficar na lagoa por mais tempo, inclusive depois de maio, quando começa o período de defeso”, observa. Se essa situação acontecer, os pescadores acreditam que seria justo prolongar a permissão, já que a captura vai começar mais tarde também.
Análise
O professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Luiz Felipe Cestari Dumont, revela que até novembro, o cenário era desanimador para a categoria que vive da pesca, pelo domínio da água doce. Mas no início deste mês, viu-se o estuário estratificado com água doce em cima e a salgada entrando por baixo, pelas camadas mais profundas, por ser mais pesada e mais densa.
“Então é possível que já se tenha algumas larvas dentro dos berçários. Eu acredito que a safra vai ser bem prejudicada, já que o ciclo atrasou dois meses”, lamenta.
O especialista explica que quando abrir o período para a captura do crustáceo, esse não estará no tamanho permitido, ou seja, de nove centímetros. “É possível que a gente tenha uma perspectiva de uma safra pequena, ainda, se comparado com os anos anteriores que foram bons”, comenta.
Para Dumont, de agora até início de fevereiro não haverá tempo suficiente para que os crustáceos atinjam o tamanho comercial.
Clima
A tendência, entretanto, é um pouco mais otimista. Na opinião do professor, o início da safra será de pouca produção, mas se confirmar a previsão de pouca chuva no verão, ao longo do início do primeiro semestre, ela vai melhorar. “Aos poucos, eu acredito que a produção deve melhorar e o tamanho também”, aposta.
Quem está otimista é o presidente da Colônia de Pescadores Z-1, de Rio Grande, Nilton Mendes Machado. Ele garante que a lagoa está salgando e já tem larvas. “Tem camarões miúdos em diversos pontos nas regiões de berçário, sinal que pode melhorar até fevereiro”, garante.