Simers alerta para possível redução em leitos de UTI neonatal na região
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira26 de Dezembro de 2024

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Simers alerta para possível redução em leitos de UTI neonatal na região

Desvalorização dos profissionais que atuam em plantão e sobrecarga de trabalho são apontadas como potenciais causas

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Simers alerta para possível redução em leitos de UTI neonatal na região
Zona Sul tem atualmente 20 leitos de UTI neonatal entre Pelotas e Rio Grande (Foto: Marcello Casal Jr.)

O Sindicato dos Médicos do Rio Grande de Sul (Simers) alerta para a possibilidade de redução pela metade no número de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal nos hospitais das duas cidades que são referência no atendimento de bebês prematuros: Pelotas e Rio Grande. O desestímulo financeiro e a sobrecarga de trabalho geram desinteresse do profissional que se forma e busca outras áreas de especialização. A realidade é estampada no depoimento de profissionais que, exaustos, pedem maior atenção dos administradores. O Hospital Universitário da Furg, no entanto, nega essa possibilidade.

O diretor da Região Sul do Simers, doutor Marcelo Sclowitz, explica que os hospitais cumprem com o cronograma de pagamento e que não há atraso nos salários, mas pela complexidade da função falta um estímulo financeiro. “O profissional da área, para trabalhar na UTI neonatal, precisa, além da residência em pediatria, uma em neonatologia ou intensivismo pediátrico e são poucos profissionais com essa habilitação”, comenta. O sindicato alerta para a tendência nacional de baixa procura pela residência nessas especialidades, por exigir que o médico trabalhe basicamente de plantão em UTI com uma remuneração desinteressante.

A preocupação maior do Simers é com o Hospital da Furg. Com a gestão da Ebserh, os médicos recebem salário padrão, mas para algumas especialidades os honorários se tornam desinteressantes. “Dentro de uma UTI o trabalho é delicado, são dez leitos com bebês prematuros em ventilação mecânica. É muita responsabilidade. É uma área que traz os bebês ao mundo. Então, o sindicato tenta articular melhorias apresentando o problema aos políticos”, afirma.

O impacto está na dificuldade de reposição desses profissionais. “Na Furg, em específico, uma médica está sendo transferida para um outro local e vai reduzir mais ainda a escala”, revela Sclowitz. Segundo o sindicalista, a abertura de concurso emergencial não surtiu efeito e há possibilidade de uma terceirizada ser contratada, assim como ocorreu com os anestesistas, em Pelotas. “Se não conseguirem repor profissionais é bem possível que precise reduzir o tamanho da UTI que tem dez leitos, com uma demanda muito grande. Isso vai refletir em outras unidades da região”, projeta.

Contraponto

O HU-Furg Ebserh informa que não há previsão de redução de leitos da UTI neonatal. Em nota, diz que existe uma perspectiva de aposentadorias no quadro atual do hospital e o concurso público vigente já esgotou a lista de candidatos aprovados para a área médica neonatologista. O HU adianta que de forma antecipada e planejada já estão sendo buscadas alternativas de contratação junto à administração central da Ebserh.

Desabafo no Chico

De acordo com nota coletiva enviada por uma equipe médica, o serviço de UTI neonatal e pediátrica do Hospital São Francisco de Paula enfrenta grande defasagem salarial que vem sendo observada há alguns anos. O grupo informa que apesar das negociações em curso, observa-se pouca ação concreta por parte dos gestores hospitalares. “Apelos por melhores salários têm sido frequentes, porém, até o momento, as respostas da direção do hospital têm sido evasivas. É importante ressaltar que este serviço exige profissionais altamente especializados para o atendimento de crianças e recém-nascidos em estado grave, não apenas de Pelotas, mas de toda a região Sul”, diz o texto.

“Em comparação com outros serviços do hospital no mesmo nível, recebemos em média 50% a menos. Oferecemos sempre o nosso melhor atendimento aos pacientes, mas gostaríamos de fazê-lo sem a preocupação com quem fará o próximo plantão ou com quem cobrirá um colega doente. Estamos profundamente insatisfeitos com a maneira como a direção tem tratado nossa equipe, desvalorizando nosso trabalho a cada dia e nos forçando a considerar novas oportunidades de emprego onde sejamos devidamente remunerados conforme nosso mérito”, diz a nota.

Segundo o Simers, a questão tem se arrastado por muitos anos, com diversas tentativas de diálogo entre a direção e os médicos. Isso resulta em uma escala de plantão defasada, o que leva muitos médicos a migrarem para serviços com melhor remuneração. “Pedimos um valor que seja simplesmente para equiparar para que todos os profissionais dentro do hospital ganhem o valor hora de trabalho líquido semelhante”, completa o diretor da Regional.

Nota oficial

Em nota, o HUSFP da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) diz que valoriza seus profissionais, reconhecendo o trabalho essencial e a dedicação de cada um que contribui para a excelência dos serviços prestados à comunidade e que mantém um diálogo aberto e transparente com todas as categorias que compõem nossa instituição. “Nos últimos anos, o HUSFP tem realizado negociações recorrentes com os representantes da classe médica, com reajustes conforme o que tem determinado as convenções coletivas de trabalho firmadas entre o Simers e Sindiberf, além de outras propostas de benefícios aos profissionais. Neste momento, há uma proposta de incremento em benefícios que a gestão do HUSFP não obteve retorno”, diz o documento.

Na nota, o HU reitera o comprometimento com o atendimento de qualidade e com a manutenção dos serviços de assistência existentes, mesmo diante de diversos desafios financeiros enquanto instituição filantrópica. Mesmo assim segue em direção ao fortalecimento e expansão dos serviços. “Prova disso são os novos serviços implementados, como Cardiologia, Linha AVC, Cirurgia Bariátrica e Odontologia para Pessoas com Deficiência (PCD)”, conclui a instituição.

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