Em plena safra da corvina, o cenário na Colônia Z-3 é de esquecimento. Antes referências de comercialização, as peixarias, que costumavam ser movimentadas, agora sofrem com a ausência de clientes. Além disso, a maioria dos profissionais deixaram de vender em feiras nos bairros e para restaurantes diante da dificuldade para escoar o produto pela estrada de acesso a Z-3.
Diante desses dois fatores, o peixe é vendido a atravessadores por valores que chegam a ser 40% menores do que seria para o cliente final.
Conforme o presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição, das 30 famílias que comercializavam pescado em feiras, atualmente somente cinco seguem na atividade. “E resistem com muita dificuldade”. Em um trecho de dois quilômetros da estrada da Z-3, a quantidade de buracos impede o tráfego rotineiro dos pescadores porque os prejuízos causados aos veículos carregados geralmente são maiores que o lucro obtido com as vendas fora da localidade.
“Sou feirante, mas desisti. Só faço feira na Semana Santa. O lucro que eu poderia ter, eu estava gastando com a manutenção do meu carro”, relata o pescador Nadir Viegas. Cerca de 30% do pescado era destinado às feiras, agora toda captura é vendida para atravessadores. “Poderia ter um lucro de 40% [a mais]”, diz. Isso porque para o consumidor final é comercializado filé, já para os atravessadores o peixe inteiro.
Persistência para chegar ao cliente
Proprietários de uma peixaria, o casal Glécio Torres e Liane de Melo são um dos poucos que ainda continuam comercializando fora da colônia. Necessidade que tem sido ainda maior devido à falta de clientes que se deslocam até a Z-3. “A nossa estrada está horrível. Os nossos carros estão tudo destruídos, manutenção, suspensão, tem que gastar direto com isso”.
Dos cerca de cinco quilômetros de estrada, o trecho permeado por buracos profundos é de aproximadamente dois quilômetros. Extensão que foi atingida pelas cheias da Lagoa dos Patos. “Tem umas crateras, mas eles dizem que não podem colocar saibro e depois dali não passam patrola porque precisa de aterro”, relata Liane.
Peixarias fechadas por tempo indeterminado
Das 15 peixarias da Z-3, ao menos cinco foram quase totalmente destruídas pela força das águas. Entre as localizadas à beira da orla, apenas duas estão com as portas abertas. Quatro meses após a enchente, a maioria dos proprietários não tiveram recursos para recuperar as estruturas. “Fim de semana, feriados a gente sempre vendia muito, agora abre e tem uns dois clientes. Tudo isso por causa das estradas e porque o pessoal já sabe que a Z-3 está toda destruída”, afirma.
Os pescadores depositam esperança do início da recuperação da Z-3 em uma boa safra de camarão. “Mas vai dar? Ninguém sabe. Mas o pescador sempre tem esperança”, diz Liana.
A prefeitura foi questionada sobre a previsão de ações para recuperar a estrada, mas não enviou resposta até o fechamento desta edição.