A ausência de elementos ornamentais nas estátuas que compõem os monumentos históricos de Pelotas tem origem nos furtos e na retirada pela própria Secretaria de Cultura (Secult) para a prevenção de novos roubos. Para profissionais do restauro e da conservação, o vazio deixado pelos itens somado ao vandalismo tem causado a dissociação das obras, bem como a perda da memória da cidade. Com isso, eles reclamam da falta de vigilância e manutenção adequada.
No coração do Centro Histórico, os monumentos e estátuas da praça Coronel Pedro Osório contam a história de importantes personagens da formação de Pelotas. No entanto, os nomes e as informações sobre quem foram essas pessoas não estão mais disponíveis. Quem passa pelos bustos só encontra o espaço vazio de onde deveriam estar as placas de bronze com datas e dados históricos sobre a figura. “A gente vê o descaso, não tem mais informação nenhuma. As coisas vão acontecendo e ninguém toma providência nenhuma”, diz a conservadora-restauradora, Flávia Faro.
Dos quatro bustos espalhados pela praça, nenhum tem placa de identificação. Além disso, a grande maioria dos monumentos estão pichados, faltando algum elemento ou com partes quebradas. Maior escultura do local, o monumento em homenagem ao Coronel Pedro Osório está vandalizado há pelo menos oito anos. “Eu fiz um orçamento para a limpeza da escultura no início do ano e até agora nada foi feito”, relata.
De acordo com Flávia, não falta mobilização dos profissionais da área para reivindicar do poder público ações de preservação e cuidado com as obras. Inclusive um laudo técnico sobre todas as intervenções necessárias nos monumentos teria sido enviado à Secult. “Não tem como restaurar e não ter manutenção e um cuidado depois. Não tem uma escultura na praça que esteja inteira”, aponta.
A perda da história
A conservadora-restauradora aponta que há uma dissociação das esculturas devido aos furtos de partes que integram as obras. Entre os danos, ela cita a tartaruga retirada do Monumento às Mães e o dedo indicador da escultura do Doutor Brusque Filho, ambos monumentos de autoria de Antônio Caringi. “Elas vão ficar com partes faltantes porque são obras que não podem ser recuperadas.”
Para Flávia, diante do estado de degradação, atualmente as obras não estariam dignas de apreciação. “Cada parte perdida, são partes da história que a gente não recupera mais”.
Falta de segurança
A conservadora-restauradora, Isabel Torino, salienta que a cada parte furtada e placa retirada contribui para o empobrecimento da história e dos monumentos. A praça está em situação de abandono, faz parte do tombamento do Centro Histórico e os monumentos são os bens integrados nela. Ela é um dos maiores museus a céu aberto do Estado.
Para a profissional, o vandalismo e os furtos são consequências da falta de policiamento adequado e de câmeras de monitoramento. “Eu me pergunto como um conjunto histórico tombado pelo Iphan não tem vigilância e esse cuidado.”
De acordo com a secretária de Segurança Pública, Cíntia Aires, a Guarda Municipal faz patrulhamento em praças e parques por viaturas, o que ocorreria em toda a área urbana.
A titular informa que desde 2015 a GM monitora via Centro Integrado de Operações Municipal (Ciom) as praças do Centro. Além disso, a Prefeitura buscaria, com emendas parlamentares e parcerias com a iniciativa privada, ampliar o número de câmeras dentro das praças para coibir furtos e depredação.