Mais de 36 mil pessoas residem em favelas em Pelotas, diz IBGE

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Mais de 36 mil pessoas residem em favelas em Pelotas, diz IBGE

Número corresponde a 11,2% do total da população do município; são 14,8 mil residências nesses territórios

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Mais de 36 mil pessoas residem em favelas em Pelotas, diz IBGE
Uma das grandes dificuldades do Dunas é a falta de infraestrutura no bairro. (Foto: Jô Folha)

“Choveu, alagou tudo, é lixo para tudo quanto é lado. Aqui tem que melhorar tudo”, relata Pâmela Freitas, moradora do Dunas há 27 anos. Os últimos dados do Censo Demográfico apontam que em Pelotas há 36 localidades caracterizadas como favelas ou comunidades urbanas. Entre elas, o Dunas, com mais de 2,6 mil domicílios, é a mais populosa. No município todo são mais de 36,6 mil pessoas que residem em territórios que carecem de infraestrutura adequada.

Conhecidas mais popularmente como vilas, as favelas e comunidades urbanas, denominadas pelo IBGE, são áreas caracterizadas pelo crescimento desordenado, falta de políticas públicas e investimentos para a garantia do direito à infraestrutura urbana. Com isso, os moradores estão expostos às dificuldades impostas pela desigualdade social, como a falta de acesso a saneamento básico, a serviços adequados, a mobilidade e ao lazer. Em Pelotas, são mais de 14,8 mil residências nesses locais.

Apesar do termo que pode remeter aos morros do Rio de Janeiro, em Pelotas esses territórios normalmente estão localizados em áreas baixas, mais suscetíveis a alagamentos, como aponta o professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura da UFPel, Otávio Peres. “É importante porque dá um foco para esses locais que são os que as políticas públicas e a opinião pública devem se atentar mais a essas realidades”, destaca.

Aspectos históricos e econômicos

Mesmo com a população menor do que Caxias do Sul e Canoas, que têm 137,6 mil e 21,9 mil moradores a mais, respectivamente, Pelotas supera consideravelmente as duas cidades em número de favelas. Para o professor da Faurb a explicação está em fatores históricos e econômicos. “A cidade tem origens em uma condição de desigualdade social e econômica muito acirrada”, diz ao relembrar a grande extensão de mão de obra escrava que havia no município.

Para Peres, outro fator que contribui com a extensão dos territórios é o déficit habitacional. A falta de condições financeiras impõe a residência em imóveis sem condições adequadas de moradia e em locais com carência de infraestrutura urbana. “O déficit não quer dizer só que as pessoas não têm casa, mas também que vivem em condições inadequadas do ponto de vista das casas, mas também das localizações”.

O impacto da falta de infraestrutura

A manutenção da desigualdade urbana também é vista como um aspecto que dificulta a mobilidade social dos moradores perante a falta de desenvolvimento local. “As cidades estão formadas de modo que deixa estagnada essa possibilidade de mobilidade e que as pessoas saiam desses locais”.

A realidade dos dados

Pâmela Freitas é uma das pessoas que sente na pele essa realidade. Desempregada há dois anos e mãe solo de uma menina de oito anos, ela não vê perspectiva de se mudar do Dunas, apesar de ser o seu desejo. “Não dão emprego até mesmo por causa do bairro que a gente mora. Eles acham que o Dunas é uma região muito perigosa, então não te dão emprego”, relata.

O grande número de ruas cheias de lixo espalhado, os buracos enormes e as casas com estruturas improvisadas são apenas alguns dos problemas que dá para observar ao transitar pelo Dunas. Moradora há 30 anos, Kelly Silveira relata que quase todas as ruas do bairro alagam. “Sempre foi assim, para passar tem que ser devagar, e em dia de chuva para levar as crianças para a escola tem que ficar fazendo voltas para poder achar um caminho [seco] porque, se não, é impossível”.

Vizinha de Pâmela, a mulher relata que gosta do bairro, mas que incentiva a filha de nove anos a sempre estudar para ter condições de vida melhores do que a dela. “Podia melhorar, a gente corre todo dia com as crianças, para trabalhar, em função de ônibus. Vamos dar dignidade, o povo merece, a gente é da vila e merece”.

Enquanto no Rio Grande do Sul o percentual da população que vive em favelas é de 3,8% e no Brasil, de 8,07%, em Pelotas o índice é de 11,26%.

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