No setor que move a economia da Zona Sul, o cenário ainda é de apreensão por causa da variação climática que assolou as lavouras com três grandes estiagens seguidas e a última enchente. Com as principais culturas sendo responsáveis por 20,7% (veja quadro) da arrecadação dos 23 municípios da Zona Sul do Estado, o agronegócio passa por transformações e grandes desafios. Mesmo com a chegada da soja na região, o arroz ainda é responsável por 70% da produção do País e, somado ao cultivo do milho, fumo e a pecuária, o agro coloca a região em lugar de destaque no cenário nacional. Situado em uma região privile- giada pela geografia, hidrografia e a presença de universidades e instituições de pesquisa, o agronegócio mudou o cenário da Zona Sul, e para melhor.
Caracterizadas no cultivo do arroz, na última década as lavouras de soja passaram de cem mil hectares para 500 mil, possibilitando uma entressafra e reaproveitamento do solo, agregando valor e geração de renda, potencializada pela presença do Porto de Rio Grande. Com a assessoria técnica que chega dos governos estadual (Emater) e federal (Embrapa), além do ensino público, responsável por manter em atividade a centenária Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, os gargalos recaem na questão da infraestrutura, que não acompanhou a modernidade no campo, e programas de preven ção aos efeitos climáticos.
Para o extensionista rural da Emater, engenheiro agrônomo Evair Ehlert, além da infraestrutura – com o melhoramento das estradas e pontes que suportem caminhões maiores – é preciso pensar na reservação de água. “Já existe um projeto do governo do Estado sobre a reservação de água que fica em área de preservação permanente (APP), só precisa ser regulamentada. Assim, teremos segurança para garantir a produção dos cultivos do seco e pastagem”, sinalizou, ao lembrar que a região enfrentou três anos de estiagem.
Uma outra demanda que vem sendo trabalhada na Zona Sul é a instalação de equipamentos para secagem e armazenamento de grãos, e o grande empecilho para os produtores são as redes monofásicas que impedem esse tipo de investimento. Apesar dos entraves, Ehlert considera a forma organizada e a representatividade dos produtores e trabalhadores na agropecuária como grande potencial do setor, sendo que a demanda somente seria uma cooperativa forte na região.
Desafio
O presidente da Associação Rural de Pelotas (ARP), Augusto Rassier, considera a safra deste ano desafiadora. “O El Niño impôs dificuldade desde o plantio, mas principalmente na colheita”. Os arrozeiros, segundo ele, conseguiram colher de 90% a 95% na Zona Sul, o que representa um Estado abastecido, sendo desnecessária a interferência do governo na importação do produto, o que implicaria em prejuízos em toda a cadeia até o consumidor final, afirma Rassier ao destacar que a região entrega o arroz pronto para o consumo. Diferentemente da soja, que é comercializada in natura, até mesmo pela necessida de do comprador, sendo o principal deles a China. Nessa logística, estar próximo a um porto reduz custos com frete, tanto no escoamento da soja, principalmente para a China, quanto na compra de insumos. “Um dos gargalos que temos são os pedágios”, sinalizou.
Um olhar para o pequeno agricultor
Para quem perdeu quase tudo com a enchente deste ano, o momento atual é de falta de fluxo de caixa. A única vantagem apontada pelo pequeno agricultor Jaques Hartwig, do Monte Bonito, interior de Pelotas, é que com a migração de muitos produtores para o arroz e soja, na tentativa de melhorar de vida, tudo que se planta e se colhe em hortifrutigranjeiros é comercializado pela escassez dos produtos em oferta. Ainda assim, 716 mil pessoas no Rio Grande do Sul vivem de pequenas produções no campo.
A pequena vantagem só não supera a falta de apoio financeiro dos governos, segundo Hartwig, na hora da dificuldade de quem vive da agricultura familiar. A linda plantação de morangos que tinha na sua propriedade hoje dá espaço para outros cultivos, com maior rentabilidade e menos tempo de colheita. “Os efeitos climáticos levaram tudo. Uma estufa hoje custa em média de R$ 35 mil e R$ 40 mil e não tivemos ajuda. O que o governo oferece é a prorrogação das parcelas para quem financia, mas claro, isso só vai aumentar os juros. Então, não recebemos o mesmo olhar que os grandes produtores”, lamentou. Mesmo assim, com o pensamento empreendedor, não quis ficar parado no tempo e segue investindo em tecnologia, como as estufas e a irrigação. “Precisamos evoluir, pois se assim (com ferramentas) já está difícil, imagina para quem não tem nada”.
Dados da produção dos 23 municípios da Azonasul:
Arroz – 179.405 ha – valor da produção – R$ 2,225 bilhões
Soja – 516.736 ha – valor da produção – R$ 3,950 bilhões
Milho – 51.943 ha – valor da produção – R$ 282 milhões
Fumo – 25.690 ha – valor da produção – R$ 714 milhões
Bovinos -1.638.076 – cabeças – valor da produção – R$ 1,296 bilhão
Fonte: IBGE 2022