Redação do Enem reforça debate sobre a herança africana em Pelotas

Valorização

Redação do Enem reforça debate sobre a herança africana em Pelotas

Projeto Museu do Percurso Negro resgata perfis relevantes do povo negro em Pelotas, com o objetivo de ressignificar a história

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Atualizado terça-feira,
05 de Novembro de 2024 às 15:28

Redação do Enem reforça debate sobre a herança africana em Pelotas
Luis Carlos Mattozo coordena o projeto Museu do Percurso Negro. (Foto: Jô Folha)

Considerado um assunto que ainda carece de discussões na sociedade, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Nesse contexto, em uma cidade cujo passado é marcado fortemente pela presença africana, visível em vários aspectos de sua história e cultura, um projeto local busca fortalecer o enaltecimento da cultura afro-brasileira.

Coordenado por Luis Carlos Mattozo, o projeto Museu do Percurso Negro tem o objetivo de dar visibilidade e ressignificar a presença do povo negro em Pelotas, através da designação de ruas e outros pontos da cidade com nomes de personalidades negras. Dessa forma, os locais recriam a história da comunidade, ressaltando a contribuição da comunidade afro-brasileira na formação da cidade.

Caminhos negros

O roteiro tem porta de entrada na chácara da Brigada Militar, no Passo dos Negros, por onde se deu a entrada de boa parte da população negra no país e na América Latina. Além disso, o projeto inclui o conjunto de ruas com nomes de referências negras no bairro Navegantes – uma das regiões com maior concentração da população negra da periferia – e no bairro Getúlio Vargas. O mapeamento também conta a gruta de Iemanjá, o Monumento a Pai Ogum e São Jorge Guerreiro e o Mercado Público com o Orixá Bará e a capoeira Filhos da Roda.

“Se aprende na escola que o negro veio para cá, foi escravo, trabalhou nas charqueadas, apanhou. Mas a nossa presença vai além disso. Temos personalidades negras na história da cidade que são importantes inclusive no cenário nacional. Por exemplo: o tambor de sopapo é um instrumento genuinamente pelotense, e hoje conhecido no Brasil inteiro; o artista plástico Miguel Barros, um dos grandes nomes brasileiros, é negro, nascido em Pelotas e viajou o mundo inteiro”, justifica Mattozo.

Iniciativas e a ampliação da discussão

O Ministério do Turismo criou um programa nacional intitulado “Rotas Negras”. Com isso, Pelotas formalizou junto à Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico a apresentação do projeto de uma rota local. Até o momento, o projeto tramita na pasta, com expectativa de anúncio ainda neste mês, provavelmente no “Congresso Negros e Negras”, em 19 e 20 de novembro. Em seguida, será produzido um mapa digital com todos os percursos para o acesso de escolas, pesquisadores e turistas.

“O turismo histórico vinculado à cultura negra no Brasil vem crescendo. E esse tema da redação do Enem surge nesta perspectiva”, relaciona Mattozo. “O tema da negritude na história do Brasil tem assumido um papel relevante. Não queremos reescrever a história do Brasil, mas que o capítulo da história do Brasil que se refere à presença do negro possa ser ressignificado na mesma dimensão”, afirma.

Emocionado, ao ser questionado sobre o sentimento no momento em que descobriu que o tema estava sendo trabalhado no maior exame vestibular do Brasil, Mattozo se esforça para não se embaralhar em meio às palavras, mas é enfático ao conseguir expressar da maneira mais fiel a sua reação. “A gente tinha razão!”

Em um segundo momento, ele declara que esse fato fortalece aquilo que já é uma convicção e que é preciso dar continuidade à luta pelo reconhecimento das raízes negras. “Além de criar mais argumentos para mostrar que precisamos tratar sobre esse tema, isso nos dá certeza que a gente vem trilhando um caminho historicamente correto, necessário e fundamental para entendermos quem fomos ontem, quem somos hoje e quem vamos ser amanhã”, conclui.

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