A realização da Feira do Livro de Pelotas é um convite para aqueles que ainda não descobriram ou precisam redescobrir os inúmeros prazeres que a leitura proporciona. Considerada uma atividade de múltiplas funções, além de promover o entretenimento, também pode ser uma prática muito benéfica para a saúde mental.
Possivelmente, de acordo com a professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Airi Sacco, a coisa mais bonita que a leitura tem o poder de fazer é transportar leitores para outras realidades. Da mesma forma, cria um refúgio frente a correria do dia a dia, um momento para descansar a cabeça e relaxar.
“Vivemos em um mundo tão corrido, com tantos estímulos, que para lermos um livro é preciso parar e, na medida em que promovemos essa pausa na rotina para a leitura, criamos um sentimento de bem-estar, diminuindo o estresse e a ansiedade”, explica.
Além dos aspectos ligados à saúde mental, ler é uma poderosa ferramenta de exercício cerebral. “Pode estimular desde habilidades e conhecimentos mais fundamentais até aprendizagens que envolvem outros domínios, como desenvolvimento do raciocínio e do pensamento crítico”, completa a diretora do Centro de Letras e Comunicação (CLC) da UFPel e coordenadora do Projeto de Extensão Clube de Leitura – Ler Mulheres, Vanessa Damasceno.
Por que ler?
Em relação aos benefícios cognitivos, são inúmeros: ao lermos, trabalhamos com percepção, com atenção, com memória. Todos esses processos psicológicos são ativados e trabalhados quando estamos no processo de leitura. Inúmeros estudos indicam que hábitos regulares de leitura reduzem os riscos de demência durante a vida adulta.
Pensando no desenvolvimento de habilidades específicas, ler é uma das melhores formas de ampliar competências, como qualificar a escrita, expandir o vocabulário, desenvolver a criatividade, auxiliar na formação do senso crítico, na capacidade de reflexão sobre algo.
Reconhecer melhor pensamentos e sentimentos é outro grande ganho proporcionado pela leitura. Conforme Airi, isso se dá porque quando se lê uma história, existe um certo distanciamento e, dessa forma, é possível perceber melhor situações difíceis a partir da experiência dos personagens.
A leitura é uma ferramenta poderosa que ajuda a ampliar conceitos existentes sobre o mundo, sobre a dualidade enfrentada por todo ser humano e, ainda, como uma forma de transcender a si mesmo.
Leitura como espaço de militância
A leitura também pode ser uma forma de se posicionar no mundo, de lutar por espaços tradicionalmente ocupados por homens, geralmente brancos e oriundos da Europa ou dos Estados Unidos. Dentro dessa perspectiva, nasce o Clube de Leitura do Centro de Letras e Comunicação da UFPel, Ler Mulheres.
De acordo com Vanessa, por mais que já se tenha avançado na busca de representatividade de gênero dentro da literatura, ainda existe uma longa estrada a ser percorrida. “Ao longo da história, as mulheres tiveram menos possibilidades de se dedicar à literatura, foram menos publicadas.
Das 117 edições do Prêmio Nobel de Literatura, apenas 16 mulheres saíram vencedoras. Menos de 20% dos primeiros lugares da categoria romance do Prêmio Jabuti são de autoras mulheres”, enumera Vanessa.
A docente ainda ressalta que se separarmos apenas os considerados clássicos da literatura, 99% foram escritos por homens.
Biblioterapia
Considerada como importante recurso terapêutico, a Biblioterapia é uma ferramenta que se utiliza de livros, histórias, materiais de leitura diversos para auxiliar em um processo de autoconhecimento, ou até como coadjuvante no tratamento de questões específicas como depressão, por exemplo.
Apesar de estudos limitados, está é uma ferramenta que pode ser usada sem grandes problemas em termos de risco, explica Airi. Entretanto, a docente ressalta a importância de procurar profissionais com conhecimento teórico e técnico.
“Estamos vivendo em uma era do coaching, em que pessoas sem nenhum conhecimento técnico acham que são especialistas sobre tudo. É preciso tomar alguns cuidados, pois a leitura pode acabar despertando gatilhos como ansiedade, por exemplo, ou lembrar algum evento traumático, e o profissional precisa ser habilitado para lidar com isso”, orienta.
Leitura em grupo
Clubes de leituras são uma forma eficiente de conhecer novas pessoas, de promover o senso de comunidade e facilitar a interação social. Como cada experiência de leitura sempre é única, o debate costuma ser muito rico, pois é comum encontrar interpretações completamente diferentes de um mesmo capítulo.
“Entrar em contato com pessoas que veem a mesma realidade de um jeito totalmente diferente da forma como vês é uma forma muito potente de expandir o horizonte”, comenta Airi.
Para a mediadora voluntária do clube de leitura Ler Mulheres, Beatriz Pereira, a leitura coletiva não priva o momento individual da leitura. Entretanto, muitos livros são capazes de trazer questionamentos e provocar a vontade de saber como outras pessoas pensam.
“No clube de leitura conseguimos essa troca. O legal desse movimento é passar por esses dois momentos, a leitura individual e depois a troca, que é uma riqueza, pois saímos daqui com 10 leituras a mais”, avalia.
Descobrir o que gosta de ler
• Experimentar diferentes formatos
• Pensar em temas que gosta
• Buscar temas sobre os quais quer aprender mais
• Adaptações de produções que já gosta
• Participar de grupos de leitura
• Definir metas alcançáveis
• Escolher um local agradável
• Visitar livrarias
• Optar por bestsellers
• Não insistir se não gosta