O acidente que vitimou nove pelotenses na serra do Paraná, próximo ao litoral, reacendeu a importância para a fiscalização nas estradas e as condições de trafegabilidade e manutenção dos veículos de carga pesada. Nas rodovias em que a concessionária Ecosul atende, de janeiro a outubro houve 39 tombamentos de caminhões, com uma morte. O trecho campeão de ocorrências é o dos quilômetros 68 ao 200 da BR-392, entre Pelotas e Santana da Boa Vista, com 16 registros este ano. Falta de atenção, excesso de velocidade e sonolência do condutor surgem como as causas principais.
No caso do Paraná, o acidente – que ainda está sob investigação – teria sido causado pela falta de freios do caminhão que transportava 20 toneladas de peças automotivas em um trecho de serra. Por aqui, os quilômetros com maior incidência de tombamentos na região são de curvas acentuadas e de caminhões com cargas volumosas (confira quadro). De acordo com o policial rodoviário federal Marcos Alexandre de Freitas Molina, a PRF está sempre em alerta e preocupada com acidentes envolvendo veículos pesados, com os atenção voltada para as resoluções da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). “Dentro do possível o órgão tenta sensibilizar as câmaras temáticas para o cuidado com a segurança viária quando se quer flexibilizar alguma regra no transporte de cargas”, afirma.
Fiscalização constante
Para o agente federal, as equipes especializadas fiscalizam o tempo de direção dos motoristas profissionais e o sistema de freios e excesso de peso. “Este, além de danificar o pavimento, torna o sistema ineficiente e aumenta o risco de acidentes”, pontua. No final de outubro, um caminhão do tipo rodotrem foi flagrado com 42 toneladas de excesso de peso, trafegando pela BR-116, em Pelotas. A carreta carregada com areia foi parada e, somando ao peso do caminhão, o total chegava a quase 200 quilos, sendo que o máximo permitido para o tipo de rodotrem com nove eixos é de até 74 toneladas bruto.
“O excesso de peso em veículos representa um sério risco à segurança nas estradas, comprometendo a estabilidade e a capacidade de frenagem, além de aumentar consideravelmente a probabilidade de acidentes graves”, destaca Molina. Quando há ocorrências desse gênero, a PRF encaminha o caso para o Ministério Público Federal por dano ao patrimônio público, ou seja, as rodovias.
Pressa nas rodovias
Um dos representantes de uma transportadora da região, Líber Amaro coloca um fator que pode estar ocasionando o aumento de acidentes: a pressão das empresas para entregar mercadorias. “Se a transportadora diz que seu funcionário vai cumprir com a lei do descanso e trafegar dentro do limite de velocidade, e isso pode impactar o prazo de entrega, eles (donos das mercadorias) dizem que vão para outra que faz mais rápido”, admite.
Somado a esse fator, Amaro coloca que, com o preço baixo pago pelo frete e os altos pedágios, podem comprometer a manutenção dos veículos. “Não é o nosso caso, pois nos mantemos sempre em dia. Mas é o que ouvimos. Além disso, tem a questão das estradas esburacadas e em pista única, aumento do fluxo de veículos de passeio, em eventuais casos de animais na pista”, comenta. Para ele, unir todas as frentes para expor pontos de vista seria o ideal para evitar mais acidentes como esses.
Simulado no domingo
Desses registros, a maioria precisou que a concessionária Ecosul interrompesse o fluxo do trânsito parcial ou totalmente para a retirada do caminhão e carga. Toda a equipe recebe treinamento para trabalhar nesse tipo de ação, principalmente quando o produto pode oferecer risco. A Ecosul contará com a participação de diversas instituições, incluindo a Granel Química, PAM de Rio Grande, Corpo de Bombeiros e a Polícia Rodoviária Federal. A operação deste domingo (3) está marcada para as 11h, no quilômetro 4 da BR-392, onde será encenado um complexo cenário de acidente – com carga perigosa.
Ficção e realidade
A simulação envolve a colisão de um caminhão-tanque com uma van que transporta nove passageiros. Em meio ao trânsito, um veículo de passeio, ao tentar desviar do acidente, atropela um ciclista e, após o impacto, capota sobre a tubulação de passagem de ácido no pátio da empresa Granel Química. Para que a simulação tenha o maior realismo possível, as “vítimas” são maquiadas para representar diferentes níveis de gravidade dos ferimentos. Isso ajudará a testar não apenas o tempo de resposta das equipes de emergência, mas também a capacidade efetiva de atendimento em situações adversas. O fluxo de atendimento será rigorosamente monitorado, permitindo que as equipes identifiquem pontos de melhoria e fortaleça suas habilidades.