Fernando Marroni (PT) chegou ao segundo turno como o mais votado em Pelotas, com 39,60% dos votos, ao lado da candidata a vice Daniela Brizolara (PSOL). Para tentar chegar à prefeitura, o petista somou à candidatura os apoios de Irajá Rodrigues (MDB) e Reginaldo Bacci (PDT), além da declaração de voto da atual prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB), e do governador do estado, Eduardo Leite (PSDB).
Como o senhor vê a campanha neste segundo turno?
A nossa cidade acreditou na mudança e nos colocou com a liderança no primeiro turno, e que continuamos no segundo turno. Estamos muito animados nesta reta final, com apoios importantes, do Irajá Rodrigues e Reginaldo Bacci, e a manifestação da prefeita Paula e do governador Eduardo Leite.
Há esse apoio de antigos rivais. O que representa conquistar essa manifestação de voto da Paula Mascarenhas e do Eduardo Leite?
Nossas divergências vão continuar, mas não impede que todos os que têm carinho e responsabilidade com a nossa cidade possam estar unidos. Precisamos estar alinhados ao governo do estado e governo federal para que possamos superar os problemas da nossa cidade.
Pelotas está vivendo uma polarização, ao repetir a disputa nacional de PT e PL?
O nosso adversário não se mostrou como polo bolsonarista no primeiro turno, mas neste segundo turno as coisas estão ficando mais claras, quem ele é e como ele se apresentou na nossa cidade, que não tem um projeto político que possa unir a sociedade para solucionar os nossos problemas. Penso que neste segundo turno ficou mais clara a polarização.
É possível superar essa polarização pós-eleição e ter um governo plural?
Vou fazer um governo para todos, independente de quem votou ou deixou de votar, um governo de união e reconstrução.
Quais os principais problemas em Pelotas que serão a prioridade da gestão?
A primeira coisa que vamos fazer é rever os contratos de zeladoria. Segundo a saúde, não podemos mais viver numa cidade que não consegue atender e ter consultas especializadas. Precisamos reequipar os postos de saúde e construir uma UPA no Fragata e outra na Zona Norte. Depois, o desafio da educação, temos mil crianças que não conseguiram vaga em pré-escola. De imediato, vamos procurar as entidades privadas para comprar vagas e ninguém ficar de fora, e imediatamente começar a construir 12 escolas de educação infantil e termos todos esses equipamentos à disposição em 2026.
Já existe o projeto para as duas UPAs?
É um projeto pronto do governo federal, obras modelos que devem ser implementadas nas cidades. A questão é buscar esses recursos, apresentar a demanda, construir e equipar as UPAs.
Na saúde, qual a estratégia para desafogar as filas de atendimentos, exames e cirurgias?
O SUS prevê que se o setor público não consegue atender, tem que comprar serviço privado. Vamos comprar esse serviço, já conversei com cinco hospitais e há condições na nossa cidade.
Quais suas propostas para conseguir cumprir a meta federal do saneamento básico?
Temos condições de fazer financiamentos e de buscar recursos a fundo perdido. Com o nosso Sanep, vamos vencer este desafio [do marco do saneamento até 2030].
Como preparar Pelotas para eventos cada vez mais extremos?
Não podemos ser negacionistas, temos que respeitar a ciência e orientações técnicas. As próximas cotas de inundações serão de cinco metros. Conversei com a Agência da Lagoa Mirim e eles já têm um projeto quase pronto que prevê casas de bombas, diques e drenagem urbana, para que a gente possa ter tranquilidade, preservar a vida e o patrimônio das pessoas.
Qual é a proposta de desenvolvimento da cidade, do ponto de vista da infraestrutura?
Precisamos antecipar a revisão do plano diretor, previsto para 2028. Dialogar com a cidade e ter uma nova orientação de onde podemos fazer obras, saneamento, infraestrutura e habitação, em condições de não colocar mais as pessoas em risco. Pelotas tem uma geografia peculiar, de terras baixas, grande parte da cidade foi aterrada e não podemos continuar nesse ritmo.
Pelotas viveu uma tragédia nesta semana com o acidente da delegação do projeto Remar para o Futuro. Qual proposta para atender projetos esportivos como esse?
Lamento muito e rezo para que as famílias encontrem conforto e possam superar este momento tão difícil. O Oguener foi meu treinador e eu tinha uma amizade com ele. Hoje temos o pró-esporte do governo federal, conversei com o ministro Fufuca [André, dos Esportes] e assumimos o compromisso de que essa tragédia deve se transformar num projeto mais potente para o esporte, ou seja, temos que ter uma superação que possa ir além de tudo o que a gente já fez nesta área.
Quais as estratégias para valorizar a cultura produzida na cidade e as rotas turísticas?
Precisamos de um novo calendário de eventos na cidade. Estamos com o nosso teatro fechado. O turismo é a indústria que mais gera emprego e mais diversificável, do transporte, gastronomia, hotelaria. A cidade tem um rico centro histórico. Nós precisamos recuperar esses prédios que estão praticamente abandonados. A praia do Laranjal precisa estar própria para banho. Chegamos a ter balneabilidade há 20 anos, quando fizemos os filtros anaeróbicos. De lá para cá, voltou a ser poluída. Despoluir a nossa praia para atrair turistas, o que gera emprego e renda.
Como será o seu governo e o secretariado? Quais secretarias serão suprimidas ou criadas?
Eu governei com 12 secretarias e poucos cargos de confiança. A prefeitura tem muitos servidores capacitados, precisamos aproveitar esses talentos. Vou criar a secretaria da Mulher, que é uma necessidade. Vai ser uma indutora das políticas públicas na saúde, educação, habitação e assistência social. Vamos enxugar as secretarias e os cargos de confiança e ter uma estrutura adequada para ser eficiente na prestação do serviço.
O Pacto Pela Paz teve resultados reconhecidos e se tornou modelo no país. Qual sua ideia sobre o programa?
Nós vamos manter o Pacto Pela Paz porque é uma experiência importante. A violência contra a mulher em Pelotas é das mais altas do estado. Precisamos fortalecer a patrulha Maria da Penha, vou integrar a Guarda Municipal com os agentes de trânsito, o que vai potencializar a integração com a Brigada Militar e Polícia Civi. Precisamos ter novas ferramentas de vigilância eletrônica na cidade, câmeras de segurança, inteligência artificial para que a gente possa proteger as pessoas.
Qual sua proposta para o funcionalismo público?
Funcionalismo tem que ser a prioridade para a prefeitura, não se pode prestar serviços sem os funcionários. Lá atrás, a prefeitura devia três salários, quando assumi eu paguei 16 salários no ano. É prioridade. Tem que pegar cada contrato, cada conta, onde a gente pode cortar gastos para colocar o investimento nas pessoas. Vamos fazer plano de carreira, [pagar] o piso ao magistério e garantir os reajustes da inflação para que não voltem a se deteriorar os salários.
Qual será a estratégia para lidar com a parte financeira do município, de ter as contas sanadas?
Nossa prefeitura tem capacidade de endividamento e de buscar financiamento. Vou priorizar os recursos a fundo perdido para aliviar o caixa e pegar os recursos da prefeitura e investir naquelas atividades nas quais não podemos receber recursos federais ou estaduais.
Quais os principais desafios para o próximo prefeito?
A prefeitura não pode ser leniente com os maus pagadores, tem que cobrar daqueles que devem. O Brasil vai crescer 3% neste ano e a nossa cidade não vai crescer na mesma proporção. É preciso alavancar nossas atividades econômicas, com o diálogo [com] nossas empresas. Vou tratar da atração de novos investimentos, nossa cidade é vocacionada para a saúde, a produção e indústria da alimentação e a biotecnologia, que é uma realidade, temos aqui grandes empresas. O Brasil importa 55% dos insumos da saúde, essa substituição é um programa do governo federal e vamos aproveitar essa oportunidade.
Qual será o legado que pretende deixar daqui a quatro anos?
Uma cidade sustentável. Economicamente, ambientalmente e socialmente. Não podemos mais conviver com a exclusão, insustentabilidade econômica e ambiental.