“A gente não pode mandar alguém investir, mas temos que criar condições para isso”

Entrevista com o governador

“A gente não pode mandar alguém investir, mas temos que criar condições para isso”

Eduardo Leite fala sobre o papel da região Sul para a reconstrução do RS e a retomada da capacidade de investimentos do Estado

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Atualizado sábado,
06 de Julho de 2024 às 16:19

“A gente não pode mandar alguém investir, mas temos que criar condições para isso”
“Acreditamos que o RS seja capaz de ser sede de investimentos de usinas para a produção de hidrogênio verde” (Foto: Jürgen Mayrhofer/Secom)

O governador Eduardo Leite (PSDB) concedeu sua primeira entrevista ao A Hora do Sul. Na conversa, destacou ações do governo para a reconstrução do Rio Grande do Sul e para o desenvolvimento da Região Sul.

Qual papel a região Sul pode ter para contribuir com a reconstrução do Rio Grande do Sul?

A Região Sul também passou pelas suas próprias dificuldades, especialmente os municípios às margens da Lagoa dos Patos, como Pelotas, Rio Grande, São José do Norte e São Lourenço do Sul, e naturalmente tem uma população que precisa de assistência. Nós estamos buscando oferecer às prefeituras suporte e apoio para que atendam a cada um dos gaúchos que foram afetados nos seus municípios. É uma oportunidade de apoio em um momento de dificuldades, e o primeiro deles vem com a própria situação do Aeroporto de Pelotas. Na semana passada, estive em São Paulo visitando cada uma das companhias aéreas, apresentando os aeroportos do Rio Grande do Sul que têm capacidade de absorver mais voos neste momento emergencial que a gente vive, da falta do Aeroporto de Porto Alegre. Insisti muito no Aeroporto de Pelotas como uma das grandes alternativas, porque tem estrutura. Também fiz o contato com a operadora CCR Aeroportos, que está adiantando obras para poder conseguir entregar a ampliação do terminal aeroportuário mais rapidamente.

Em um segundo ponto [está] o nosso compromisso com o desenvolvimento da região Sul. Entre eles a duplicação do acesso de Rio Grande, uma obra importante nessa integração regional. São investimentos que, via Porto de Rio Grande, nós estamos fazendo para melhorar as condições de uso do Porto. Para ter uma ideia, entre 2010 e 2020, o Porto foi capaz de investir com as suas próprias receitas cerca de R$ 30 milhões. De 2020 para cá, a gente já está falando de mais de R$ 100 milhões de investimentos diretos com os recursos próprios. Então, um expressivo crescimento que a gente está tendo na ampliação dos investimentos no Porto de Rio Grande.

No ano passado, o governo lançou o Plano Estratégias para as Ações Climáticas do Proclima 2050. Como esse planejamento é aplicado e como as enchentes de maio podem acelerar a adaptação?

Esse plano do Proclima, para o qual nós temos apoio de organizações reconhecidas para o clima como consultorias, para dar suporte ao Estado, trabalha sobre várias frentes. Entre as de mitigação, por exemplo, estamos em vias de estabelecer um programa de pagamento por serviços ambientais. Isso significa estimular, com incentivos financeiros, aqueles que fazem mais do que a norma exige em termos de preservação. A lei já exige preservação de áreas do meio rural e a gente tem muitas pessoas que se dispõem a fazer mais do que a lei exige. E entendemos, como outros estados fazem, que devemos remunerar, inclusive premiar e incentivar economicamente essa preservação. Nós temos um programa de agricultura de baixo carbono, que tem metas bastante importantes até o final dessa década, de incentivos à redução de emissão de gases de efeito estufa, a partir da mudança do uso da terra.

A gente tem outras medidas que, inclusive, podem impactar positivamente a região Sul, que é a do hidrogênio verde. Nós acreditamos que o Rio Grande do Sul seja capaz de ser sede de investimentos de usinas para a produção de hidrogênio verde. Então, tem uma série de medidas que estão estabelecidas no sentido de contribuirmos menos para as mudanças climáticas.

O agronegócio é vital no desenvolvimento econômico. Como o governo pode se antecipar para socorrer esses agricultores diante dos efeitos climáticos?

Os custos que envolvem o financiamento ao setor agrícola são muito altos e, por isso, dependem muito do suporte do governo federal. Inclusive, nesse dia 4 de julho, os representantes do agronegócio gaúcho fizeram uma grande mobilização em Cachoeira do Sul, reivindicando a melhor atenção do governo federal à pauta agrícola na situação de calamidade. Então, nós estamos também demandando respostas efetivas do governo federal para poder ajudar no financiamento com subsídio especial e até com anistia em relação a dívidas anteriores, para que o agronegócio tenha capacidade de reação acelerada diante do que nós estamos vivenciando.
Paralelamente a isso, o governo do Estado vai lançar, nos próximos dias, ações que vão ser tudo o que o estado puder fazer para o agronegócio, com subsídios, subvenções, com anistia de dívidas que existam de produtores com programas estaduais de incentivo ao agronegócio.

A Região Sul historicamente enfrenta dificuldades estruturais que o senhor conhece. No entanto, vivemos um novo momento, com entidades como Aliança Pelotas e Aliança Rio Grande tentando implementar um novo ecossistema. Como o governo pode se aproximar dessas iniciativas para fomentar o desenvolvimento das cidades aqui da região Sul?

O desenvolvimento de uma região nunca será o que o governo simplesmente aponta e quer para aquela região, mas sim aquilo que a própria região, a partir das suas lideranças, das suas vocações econômicas, entende que deva ser o caminho. Então, o principal ponto aqui é essa mobilização local, reconhecer quais são as vocações e quais são os caminhos que devem ser estimulados para que o governo estabeleça as políticas públicas na direção daquilo que melhor vai encontrar eco e respaldo na vocação e na capacidade empreendedora da região.

Em termos de infraestrutura, no acesso para Pedras Altas, a gente já fez a requalificação de um trecho que era pavimentado em condições precárias. Temos outros dois trechos em vias de encaminhar a pavimentação. O acesso a Cerrito também foi pavimentado. Encaminhamos agora o início das obras de Amaral Ferrador, que não tem acesso asfáltico.

Pelotas fez a Estrada do Engenho, por exemplo, que ajudou, na compactação, a garantir estrutura para o dique resistir e subsistir diante das pressões do Canal São Gonçalo. Estamos com um convênio firmado para desenvolver um parque urbano às margens do São Gonçalo. Um projeto na área da saúde muito importante também, que é o Hospital de Pronto Socorro Regional, está com as obras em andamento para ser concluído até o final deste ano.

Agora o projeto da celulose, da CMPC, que vai significar também investimentos nos portos de Pelotas e de Rio Grande, viabilizando o acesso sul de Pelotas e induzindo outros investimentos privados por uma qualificação do acesso ao porto da cidade, entre outros temas.

A gente não pode mandar alguém investir, mas temos que criar condições para isso. E aí entra a questão dos voos, da infraestrutura urbana e de estímulo a determinados tipos de empreendimentos que, qualificando a condição de vida na cidade, estimulam a atração e retenção de talentos, como é o caso da região Sul, porque tem boas universidades que formam muitos bons profissionais, ajudando-a a se desenvolver.

Uma das apostas do seu governo é a educação. Como o Rio Grande do Sul tem avançado e onde se planeja chegar?

Se você observar o histórico do IDEB do Rio Grande do Sul ao longo dos anos anteriores ao nosso governo, o gráfico vai apontar uma sequência de quedas. Nos últimos anos, conseguimos promover o contrário, retomando posições entre os estados brasileiros e avançando no ranking. Tomamos algumas medidas para fazer com que o jovem permaneça na sala de aula: o programa Todo Jovem na Escola, contratação de novos professores, investimentos em tecnologia, qualificação da merenda, enfim, tudo aquilo que o Estado não conseguia fazer direito, porque não tinha dinheiro para pagar as contas básicas.

A gente está na fase de consulta pública para fazer a concessão para infraestrutura escolar em 99 escolas, inclusive na região sul. Em Pelotas, nós temos o caso da Escola Dom João Braga e da Escola Padre Rambo.

Devemos avançar com outras políticas que serão inseridas, como a ampliação do Ensino Médio em tempo integral, que é um compromisso nosso também. Nós seguimos perseguindo metas para ter uma formação integral desses alunos, preparando para o mercado de trabalho e ajudando no desenvolvimento.

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