Como a proximidade com a Lagoa dos Patos moldou seu olhar literário?
A minha relação com a Lagoa dos Patos remonta à infância. Pescando, navegando, mergulhando, enfim, explorando este majestoso corpo aquático que tem as características de um mar interno. Com o passar dos anos descobri que São Lourenço do Sul havia sido ao tempo da imigração alemã um grande porto de veleiros, aliás, em determinado momento da história o maior porto de escunas – conhecidas por iates – do Brasil. Aliado a isto veio a influência familiar, posto que meu bisavô João Baptista Scholl tinha sido o continuador da colonização alemã deste município após a morte do fundador Jacob Rheingantz. De modo que a história da colonização era assunto corriqueiro na nossa casa, pois ela era contada por meu avô Júlio Scholl, que guardava a documentação histórica de meu bisavô. A partir disto foi se instalando em mim uma necessidade de revelar esta história.
Como as experiências fora do país contribuíram para o seu entendimento sobre as raízes culturais dos colonos em São Lourenço do Sul?
Quando comecei a pesquisar a história do povo pomerano, verifiquei que era preciso ir adiante e isto acabou me levando para a Europa. Tive oportunidade de conhecer o Mar Báltico e me integrar com pescadores e homens do mar. Ali confirmei que era um povo de marinheiros e pescadores, e que somente as contingências existenciais os levaram para territórios de serras e aclives como a Serra dos Tapes em São Lourenço do Sul. Analisando in loco na Pomerânia, se evidenciou que a imigração foi fruto da fome e miséria que afligiram este povo na terra de origem, obrigando-os a imigrarem para vários países. Além disto, a Pomerânia era um território cobiçado pelos vizinhos, onde em mil anos se conta uma guerra a cada quatro anos e meio no território pomerano.
Qual o impacto dessas discussões sobre a formação da cultura local e na sua própria história de vida?
Naturalmente, o impacto na formação do povo pomerano vindo para São Lourenço do Sul se manifestou na sua cultura, onde grande parte do tempo viveu com reservas até a evolução, que segue acontecendo nos dias atuais onde a integração se tornou mais palpável. A vida do pomerano, contudo, tem sua base de resistência na unidade familiar, no cultivo de tradições praticamente extintas na Europa e sobretudo na língua pomerana, que se pode dizer que é a verdadeira pátria do povo pomerano na sua diáspora.